PRISÃO
Canta dentro de mim a confiança
Da grande multidão silenciosa
Que me rodeia.
Move-se uma epopeia
Na rasa solidão do meu destino.
Como rasa solidão do meu destino.
Como um búzio anódino
Que na praia ressoa
A pancada da onda que magoa
As penedias,
Assim eu tenho melodias
Emparedadas
No coração.
Pudesse a concha, como um fruto cheio
De fecundas doçuras desejadas,
Abrir-se no areal de meio a meio
E libertar as notas abafadas!
MENSAGEM
Vinde à terra do vinho, deuses novos!
Vinde, porque é de mosto
O sorriso dos deuses e dos povos
Quando a verdade lhes deslumbra o rosto.
Houve Olimpos onde houve mar e montes.
Onde a flor da madrugada deu perfume.
Onde a concha da mão tirou das fontes
Uma frescura que sabia a lume.
Vinde, amados senhores da juventude!
Tendes aqui o louro da virtude,
A oliveira da paz e o lírio agreste...
E carvalhos, e velhos castanheiros,
A cuja sombra um dormitar celeste
Pode tornar os sonhos verdadeiros.
Miguel Torga
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