terça-feira, 29 de abril de 2008

AZULEJARIA PORTUGUESA









O termo azulejo designa uma peça de cerâmica de pouca espessura, geralmente, quadrada, em que uma das faces é vidrada, resultado da cozedura de uma substância à base de esmalte que se torna impermeável e brilhante. Esta face pode ser monocromática ou policromática, lisa ou em relevo. O azulejo é geralmente usado em grande número como elemento associado à arquitectura em revestimento de superfícies interiores ou exteriores ou como elemento decorativo isolado.

Os temas oscilam entre os relatos de episódios históricos, cenas mitológicas, iconografia religiosa e uma extensa gama de elementos decorativos (geométricos, vegetalistas etc) aplicados a paredes, pavimentos e tectos de palácios, jardins, edifícios religiosos (igrejas, conventos), de habitação e públicos.

Com diferentes características entre si, este material tornou-se um elemento de construção divulgado em diferentes países, assumindo-se em Portugal como um importante suporte para a expressão artística nacional ao longo de mais de cinco séculos, onde o azulejo se transcende para algo mais do que um simples elemento decorativo de pouco valor intrínseco. Este material convencional é usado pelo seu baixo custo, pelas suas fortes possibilidades de qualificar esteticamente um edifício de modo prático. Mas nele se reflecte, além da luz, o repertório do imaginário português, a sua preferência pela descrição realista, a sua atracção pelo intercâmbio cultural. De forte sentido cenográfico descritivo e monumental, o azulejo é considerado hoje como uma das produções mais originais da cultura portuguesa, onde se dá a conhecer, como num extenso livro ilustrado de grande riqueza cromática, não só a história, mas também a mentalidade e o gosto de cada época.

Atualmente, a procura por azulejos tem se dado menos por seu valor decorativo e mais por suas características impermeabilizantes, sendo muito utilizado em cozinhas, banheiros e demais áreas hidráulicas.


Técnica desenvolvida e implementada pelos mouros na Península Ibérica e seguida em Espanha com assimilação do gosto pela decoração geométrica e vegetalista, no que se designa como horror vacui, horror ao vazio.

Esta técnica necessita de um barro homogéneo e estável, onde, após uma primeira cozedura, se cobre com o líquido que fará o vidrado. Os diferentes tons cromáticos obtêm-se a partir de óxidos metálicos: cobalto (azul), cobre (verde), manganésio (castanho, preto), ferro (amarelo), estanho (branco). Para a segunda cozedura as placas são colocadas horizontalmente no forno assentes em pequenos tripés de cerâmica designados de trempe. Estas peças deixam três pequenos pontos marcados no produto final, hoje em dia importantes na avaliação de autenticidade.

Inicialmente o azulejo não tem uma dimensão normalizada, mas em Portugal, a partir do século XVI até ao século XIX, e como consequência do aumento de produção pelo maior número de encomendas, o azulejo passa a ter uma medida quadrada variável entre 13,5 e 14,5 cm.

Azulejos com motivo de esfera armilar no Pátio da Carranca, Palácio Nacional de Sintra.

No ano de 1498 o rei de Portugal D. Manuel I viaja a Espanha e fica deslumbrado com a exuberância dos interiores mouriscos, com a sua proliferação cromática nos revestimentos parietais complexos. É com o seu desejo de edificar a sua residência à semelhança dos edifícios visitados em Saragoça, Toledo e Sevilha que o azulejo hispano-mourisco faz a sua primeira aparição em Portugal. O Palácio Nacional de Sintra, que serviu de residência ao rei, é um dos melhores e mais originais exemplos desse azulejo inicial ainda importado de oficinas de Sevilha em 1503 (que até então já forneciam outras regiões, como o sul de Itália).

Embora as técnicas arcaicas (alicatado, corda-seca, aresta) tenham sido importadas, assim como a tradição decorativa islâmica dos excessos decorativos de composições geométricas intrincadas e complexas, a sua aparição em Portugal cede já um pouco ao gosto europeu pelos motivos vegetalistas do gótico e a uma particular estética nacional fortemente caracterizada pela influência de factores contemporâneos. O império ultramarino português vai contribuir para a variedade formal; vão ser adaptados motivos e elementos artísticos de outros povos que se transmitem pelo curso da aculturação. Um dos exemplos mais marcantes do emprego de ideias originais é o do motivo da esfera armilar que surge no Palácio Nacional de Sintra e que vai permanecer ao longo da história portuguesa como o símbolo da expansão marítima portuguesa.

Da influência brasileira ao azulejo actual

Com as Invasões francesas, a corte portuguesa refugia-se no Brasil e o início do século XIX traz estagnação à produção de azulejo. Mas no Brasil o emprego do azulejo vai ter um desenvolvimento paralelo autónomo e, desde finais do século anterior, observa-se, especialmente ao norte do país, a aplicação do azulejo como revestimento total de fachadas de edifícios. Este fenómeno tem a sua principal origem nas condições climatéricas; o azulejo assume-se como elemento impermeável, protector contra chuvas intensas, possibilita simultaneamente o arrefecimento do interior por reflectir o calor. Estes revestimentos, inicialmente a branco, desenvolvem-se para padrões simples a duas cores.

Com a decadência das oficinas de Lisboa o fornecimento de azulejos para o Brasil é feito pela Inglaterra, França e Holanda. Mas rapidamente se reconhece que os gostos não são similares e a produção de azulejo em Portugal renasce para fazer frente às encomendas brasileiras.

Com o regresso de um grande número de portugueses ao território, o novo gosto brasileiro vai ser implementado em Portugal, principalmente na região do Porto, surgindo nesta altura as primeiras fachadas revestidas a azulejo suportadas pelos novos métodos de produção semi-industriais e industriais. Este hábito provoca diferentes reacções no território, por um lado é encarado como uma deturpação dos revestimentos que pertencem ao intimismo do interior da habitação – sendo mesmo utilizado o termo “casas de penico”-, por outro lado reconhece-se o seu potencial de valorização estética dos exteriores.

Com a introdução da linguagem romântica em Portugal é dado um maior realce à produção de épocas anteriores, como se pode observar na obra de Luís Ferreira (conhecido também como Ferreira das Tabuletas), que combina os novos métodos com a temática do século anterior, ou de Jorge Colaço com ênfase no historicismo.

Entrando já no século XX são de referir Rafael Bordalo Pinheiro, com produções ecletistas com destaque para o enaltecimento histórico nacional, Paolo Ferreira e Jorge Barradas. Já a meados do século Júlio Resende, Júlio Pomar, Sá Nogueira, Maria Keil com diferentes projectos de valorização urbana, João Abel Manta, Eduardo Nery, entre outros.

Para preservar e estudar a azulejaria portuguesa foi criado o Museu Nacional do Azulejo.

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