quarta-feira, 16 de abril de 2008

A OBRA DO PADRE MANUEL ANTUNES


TUDO SOBRE O GRANDE PENSADOR QUE FEZ A 4ª CLASSE DESCALÇO

Falta apenas editar dois dos 14 volumes para que a Fundação Calouste Gulbenkian cumpra a promessa de publicar toda a obra crítica do padre Manuel Antunes, um grande pensador ainda ignorado por muitos portugueses.

Esta vontade da fundação junta-se a tantas outras que se juntaram há três anos, fazendo com que, em tempo recorde, fossem reunidos, comentados e publicados os mais variados escritos deste sacerdote jesuíta, "pensador, ensaísta, filósofo da cultura, analista político e literário", como lhe chamou Eduardo Lourenço.

Uma tarefa que tardava. Com a obra que foi saindo ao longo dos anos 60, 70 e 80 há muito esgotada, urgia dar a conhecer o perfil deste pensador do século XX que, tal como Eduardo Lourenço e José Gil, elegeu Portugal como tema central da sua reflexão.

O aniversário dos 20 anos da sua morte, em 2005, serviu de mote a uma grande mobilização que deu origem ao congresso internacional e ao relançamento do seu livro (ainda actual), intitulado Repensar Portugal (Multinova, 1979), no qual explana o seu pensamento democrático. Um livro que Lidley Cintra dizia dever estar na mesa de cabeceira dos políticos portugueses. Nesta obra, Manuel Antunes classificava o País como "um paradoxo vivo dos mais estranhos que a memória dos homens conhece". Sobre o 25 de Abril, acentuava: "Procedeu-se a uma revolução política. Procedeu-se a uma revolução económica e social. Procedeu-se até certo ponto a uma revolução cultural. E a revolução moral? Sem ela as outras revoluções correm o risco de não passarem de perversões. Sem ela, uma corrupção sucede fatalmente a outra corrupção, ou talvez pior, a antiga perpetua-se. Sem ela, 'a exploração do homem' pelo homem muda apenas de campo."

O 'fio de voz' no anfiteatro

A sua influência mais directa foi exercida, sem dúvida, junto dos 15 mil alunos que desde 1957 bebiam entusiasmados as suas palavras na Faculdade de Letras de Lisboa. Alunos dali e de Direito, mesmo ao lado, que, quando podiam, como contou Marcelo Rebelo de Sousa, iam de propósito ouvir o que dizia aquele "fio de voz", numa estatura "meã, magríssimo e lívido", como descreveu João Bénard da Costa. Não foi seu aluno, mas ficou também marcado por este vulto que via como um ser que sempre fora adulto, sem nunca ter passado pelas fases de criança, adolescente ou jovem.

Mas quem de facto iniciou todo este processo e centralizou as iniciativas foi o historiador José Eduardo Franco, que desde os anos 90 se entusiasmava pelo então director da Brotéria quando numa tese sobre a revista descobriu os mais de cem pseudónimos do padre. "Interessei-me logo imenso por esta figura ímpar. Na cultura portuguesa e europeia nunca nenhum autor escreveu com tantos pseudónimos", sublinha ao DN o professor universitário. Ele bem procurou entre os seus antigos alunos quem dissesse mal do padre Manuel Antunes. "Não encontrei ninguém. Reunia um consenso inabitual. Era admirado por pessoas do PCP como do CDS."

José Eduardo Franco conseguiu em três anos desenterrar todos os textos de Manuel Antunes e concretizar a publicação crítica da obra do homem que abraçava o "humanismo dialogal".|

Leonor Figueiredo in DN

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