É um poeta particularmente hábil no jogo verbal e na sátira individual. Usa com destreza a musicalidade das palavras, construindo uma retórica satirizante, colocando-se com frequência para além do formalismo mas sempre com frescura e originalidade.
LOUVOR
Em louvor e simplificação de
Mário de Cesariny de Vasconcelos
Por quê Mário?
Por quê Cesariny?
Por quê – ó meu Deus, de Vasconcelos?
Não sabes que um polícia de costumes é o agente interino
da moral dos vitelos?
Alarga Mário alarga pássara do canto
e verás que a ilharga da imagem
o deus da vadiagem
fará de ti um santo.
Meu santo minha santa
Filomena tirada dos altares
quando a alma dos outros é pequena
melhor é ir a ares.
Areja Mário a pluma que sobeja
ao teu surrealismo
antes o ar de Londres que o de Beja
antes a bruma do que o sinapismo.
Fornica meu poeta
sem a arnica
dos padrecas da terra.
Antes em Telavive que o tal estar
Aqui
De cu pró ar
A ver quem nos enterra.
A fundo Mário se quiseres
baratinar os chuis.
Nem vinho já sabemos nem mulheres
mas os c*lh*** de teres
os três olhos azuis.
"Antologia de Poesia PortuguesaErótica e Satírica"
LOUVOR
Em louvor e simplificação de
Mário de Cesariny de Vasconcelos
Por quê Mário?
Por quê Cesariny?
Por quê – ó meu Deus, de Vasconcelos?
Não sabes que um polícia de costumes é o agente interino
da moral dos vitelos?
Alarga Mário alarga pássara do canto
e verás que a ilharga da imagem
o deus da vadiagem
fará de ti um santo.
Meu santo minha santa
Filomena tirada dos altares
quando a alma dos outros é pequena
melhor é ir a ares.
Areja Mário a pluma que sobeja
ao teu surrealismo
antes o ar de Londres que o de Beja
antes a bruma do que o sinapismo.
Fornica meu poeta
sem a arnica
dos padrecas da terra.
Antes em Telavive que o tal estar
Aqui
De cu pró ar
A ver quem nos enterra.
A fundo Mário se quiseres
baratinar os chuis.
Nem vinho já sabemos nem mulheres
mas os c*lh*** de teres
os três olhos azuis.
"Antologia de Poesia PortuguesaErótica e Satírica"
"(dos Cancioneiros Medievais à Actualidade)
Selecção, Prefácio e Notas de Natália Correia
F. A. Edições S. A. - Rio de Janeiro, 1965
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A MÁQUINA FOTOGRÁFICA
que se revela a água
água imagem
água nítida e fixa
água paisagem
boa nariz cabelos e cintura
terra sem nome
rosto sem figura
água móvel nos rios
parada nos retratos
água escorrida e pura
água viagem trânsito hiato.
Chego de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já suei o suor de oito séculos de mar
o tempo de onze meses de ordenado;
por isso, meu amor, viajo a nado
não por ser português mal empregado
mas por sofrer dos pés
e estar desidratado.
Chego. Mudo de fato. Calço a idade
que melhor quadra à minha solidão
e saio a procurar-te na cidade
contrastada violenta negativa
tu única sombra murmurada
única rua mal iluminada
única imagem desfocada e viva.
Moras aonde eu sei.
É na distância
onde chego de táxi.
Sou turista
com trinta e seis hipóteses no rolo;
venho ao teu miradoiro ver a vista
trago a minha tristeza a tiracolo.
Enquadro-te regulo-te disparo-te
revelo-te retoco-te repito-te
compro um frasco de tédio e um aparo
nas tuas costas ponho uma estampilha
e escrevo aos meus amigos que estão longe
charmant pays
------------------the sun is shining
-------------------------------------love.
Emendo-te rasuro-te preencho-te
assino-te destino-te comando-te
és o lugar concreto onde procuro
a noite de passagem o abrigo seguro
a hora de acordar que se diz ao porteiro
o tempo que não segue o tempo em que não duro
senão um dia inteiro.
Invento-te desbravo-te desvendo-te
surges letra por letra, película sonora,
do sendo à vogal do tema à consoante
sem presença no espaço sem diferença na hora.
És a rota da Índia o sarcasmo do vento
a cãibra do gajeiro o erro do sextante
o acaso a maré o mapa a descoberta
dum novo continente itinerante.
"Obra Poética"
Lisboa, Edições Avante, 1994
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