segunda-feira, 27 de outubro de 2008

No país dos al capones...

Tudo começou com Cavaco Silva e as vaquinhas de Mancelos. "Fiquei surpreendido por ver como elas avançavam uma a uma e se encostavam ao robot, sentindo-se deliciadas enquanto este realizava a ordenha".
Pensei: pronto, ok, quem é que não tem o seu momento de fraqueza?
Mas depois, zás: em burlescos workshops oficiais, grupos de professores entoam loas ao computador Magalhães.
Pensei: pronto, ok, se Cavaco Silva pode "passar-se" com as vaquinhas, uns quantos professores também podem "passar-se" com um PC portátil. E com Maria de Lurdes Rodrigues...
Dias mais tarde, José Sócrates leva as teses do último congresso do PCP para a Assembleia da República e, em vez de responder às perguntas da bancada comunista, recita compulsivamente partes do documento.
Pensei: pronto, ok, Cavaco com as vaquinhas, uns professores com o Magalhães, por que não o primeiro-ministro com Jerónimo de Sousa?
Havia, felizmente, um Portugal-Albânia no horizonte. Um Portugal-Albânia, como se sabe, é um número variável de golos para Portugal e zero para a Albânia. Ou costumava ser. Mas não foi. Comecei por pensar: pronto, ok, se Cavaco... Mas pensei melhor: ok, o tanas! Depois, percebi que quem estava a "passar-se" era eu (com Queiroz) e dominei-me.
Quando Manuela Ferreira Leite reapareceu em carne e osso numa conferência de Imprensa para se pronunciar sobre o orçamento do próximo ano (é verdade, ela fala, senhores!), agradeci-lhe mentalmente por me trazer, em final de quinzena, qualquer coisa palpável, lógica, ligada à terra. Nada de vaquinhas deliciadas, nada de serenatas a computadores, nada de exercícios de retórica política estéreis e vexatórios, nada de rapazes jactantes num estádio de futebol.
O que a realidade tem de bom é que, às vezes, nos traz coisas inesperadas.
Coisas como sermos ainda - a par do robot que ordenha vacas e do Magalhães que inspira rimas - um país "à moda de Al Capone".
Quer dizer: um país que quase não pune os seus agentes da autoridade corruptos.
Só foi pena que Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, não tivesse dado uma ideia da extensão do fenómeno.
Mas alguém terá de o fazer, não é?
Fernando Marques
in JN

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