A democracia portuguesa está mal. O sistema partidário, como um todo, fenece. Quando os partidos representados na Assembleia da República não são capazes do consenso necessário para eleger o Provedor de Justiça e obrigam Nascimento Rodrigues a manter-se no cargo, contra a sua vontade e o seu estado de saúde, quase um ano transcrito após a cessação do seu mandato, uma coisa fica clara - estes partidos não servem a Nação. Estes partidos não defendem o interesse nacional. Estes partidos não se preocupam com o povo. Pelo contrário, ocupam-se, isso sim, nos seus jogos de poder, em mesquinhas disputas, características da baixa política.
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Basta ver a forma como o prof. dr. Vital Moreira, a quem se exige seriedade académica, honestidade intelectual, rigor científico, dispara a torto e a direito e ataca, chinela no pé, o PSD, afirmando que "todos aqueles senhores" que, no BPN, utilizaram "a economia para efeitos puramente criminosos" são, "certamente por acaso e só por acaso, figuras gradas do PSD"; e, por isso, intima o dito a pronunciar-se "sobre a roubalheira do BPN". O rigor do constitucionalista perdeu-se, descidas as escadarias da Universidade de Coimbra, na pressa de apanhar o avião para Bruxelas. E nem se lembra, o candidato Vital, que quem tem Freeports de vidro devia ser mais comedido nas bojardas. Triste do povo a quem propõem tais tribunos.
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Mais triste, ainda, o povo a quem, um outro senador, também do PS, quer obrigar a votar porque a democracia (deles) "precisa de mais (…) participação eleitoral para ser uma democracia útil, genuína e sólida". Eis uma reveladora falácia. Temente da falta de representatividade dos que não sabem ou não querem servir o povo, César propõe-se penalizar "em termos fiscais ou em termos de benefícios ou acesso a serviços públicos" os cidadãos que não votem, e não apresentem "uma justificação adequada". Chocante. Persecutório. Assustador.
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Claro que tudo isto faz sentido num país em que o primeiro-ministro perde tempo a processar jornalistas, enquanto na Entidade Reguladora para a Comunicação Social há quem defenda uma "reprovação clara e substantiva" da forma como Manuela Moura Guedes apresenta o jornal nacional da TVI dada a sua "linguagem gestual e facial (…) que inclui trejeitos, risos irónicos, e outras formas de expressão não verbais" e assim "atenta contra o rigor da informação".
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Talvez todos estes atentados à saúde da democracia nos fossem mais leves se a canção dos Xutos, "Sem eira nem beira", passasse na Rádio. Mas não passa. Claro que o facto da cantiga se ter transformado numa espécie de bandeira anti-Sócrates não é para aqui chamado. Ainda bem que vivemos em liberdade.
Mário Contumélias
in JN
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