segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Urge correr a corja do poder

Nos idos de 1974/75, (após meio século de ditadura) dizia frequentemente que havia tantos partidos de esquerda em Portugal quanto o número de faculdades das universidades portuguesas – que eram bem poucas – mas chegavam para elevar à potência “n” os preciosismos e divergências entre a interpretação mais correcta dos textos de Engels, Hegel, Marx, Lenine + Mao, Estaline, Che, e uns quantos aprendizes de feiticeiro herdados do Maio 68 francês.
Entre eles, encontramos hoje os mais ilustres dirigentes europeus, a começar pelo presidente da respectiva comissão de burocratas bruxelenses e o respectivo séquito … citar nomes, para quê? Basta verem quem são e lerem o respectivo curriculum.
Nessa (já longínqua época do Século passado) fazia-o por dever de ofício – em que era obrigado a interpretar no briefing militar da manhã – as opiniões e posições dos mais genuínos, legítimos, válidos, revolucionários, capazes, prometedores e consequentes salvadores da pátria orfã de El-Rei Sebastião. Incluindo, evidentemente, fascistas refugiados e apoiados no e pelo Franco (ainda vivo) e a restante cambada alemã que o jornalista Gunter Wallraff tão bem descreveu (e provou) no livro “A descoberta de uma conspiração - A acção Spínola”, Livraria Bertrand, 1976.
Para quem nunca o leu, vale a pena procurarem no alfarrabista mais próximo de…a Assembleia da República, o Palácio de São Bento, a Biblioteca Nacional, etc.
Permitam ver-me obrigado a recordar estes episódios recentes da nossa História contemporânea; pela simples mas suficiente e necessária razão de explicar como chegámos aqui:
Após o período de transição em que o Movimento das Forças Armadas cumpriu o programa que o levou ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, restaurou a Democracia e entregou o Poder aos partidos políticos, a mais não temos assistido do que:
- A transformação dos partidos em clientelas corruptas, ávidas do poder a qualquer preço:
- Incluindo a alteração de leis que lhes permitam roubar à ganância e safarem-se sempre; com os tais “parafusos” que foram introduzindo no código penal e do processo penal, e lhes permitem sempre anular factos provados, ou protelar o trânsito em julgado até o processo criminal prescrever;
- A terem sacado e metido ao bolso os fundos europeus que era suposto ajudarem ao desenvolvimento e modernização de Portugal;
-A criarem uma rede mafiosa entre os titulares de cargos políticos e os administradores das holdings que controlam as empresas do betão a os bancos da D. Branca, que saltitam de ministro, secretário de Estado, e administradores com salários, indemnizações e reformas milionárias – mesmo que nada tenham feito a não ser abrir falência em pouco tempo – mas tudo, tudo, tudo, à custa de quem trabalha e paga impostos que lhe levam um terço do que ganham.
Em resumo a realidade indesmentível é a que descrevi.
Perante isso, o que tem feito o eleitorado? Votar sistematicamente nos partidos que são responsáveis pela realidade em que vivemos. Os portugueses gostam de ser roubados e explorados indecentemente. Gostam de continuar a votar sempre no mesmo PS e PSD + CDS que mantêm o Poder desde que a Democracia existe em Portugal. E os rouba escandalosamente, conseguindo atirar o país para a cauda da Europa e bater os recordes do fosso entre ricos e pobres, sendo estes 20% da população.
Não têm vergonha das vossas opções enquanto (ainda) vos permitem votar?
E, para terminar, voltando ao primeiro parágrafo:
Quando é que “as esquerdas” – como agora se intitulam – resolvem de uma vez por todas unir-se, criarem um partido capaz de vencer as eleições e dar o devido tratamento à cambada que nos (des)governa) há mais de 34 anos?
Espero a vossa resposta em tempo útil.
De outra forma… ainda sabem o que significa ir ver Braga por um canudo? Espero que não seja necessário lá chegar…
Álvaro Fernandes
15 de Dezembro de 2008

3 comentários:

Jerónimo Sardinha disse...

Meu Caro Capitão de Abril,

Com a devida vénia, solicito a sua autorização para reeditar este seu magnífico artigo, no meu (nosso) blog "Liberdade e Cidadania".

Nos dias que atravessamos, é o artigo que eu próprio gostaria de ter escrito.

Muito obrigado pela clarividência e pela eloquência com que aponta erros e desvios, não esquecendo a culpa maior do nosso POVO. Sim! somos nós que votamos!

Muitas vezes o tenho dito e escrito:
NÃO FOI PARA ISTO QUE SE FEZ O 25 DE ABRIL DE 1974.

Com um forte abraço de solidariedade e Companheirismo,

Jerónimo Sardinha

zigoto disse...

Meu caro Companheiro de muitas e (já) velhas lutas,
honra-me que transcreva no seu blogue"Liberdade e Cidadania" o texto que escrevi; pois é, exactamente da liberdade e cidadania que nos vão roubando - com o consentimento do eleitorado que vota nesta pandilha - a que me referia e combato enquanto tiver forças para isso.
Encoraja-me saber que não sou o único a perceber e desejar que urge correr com a corja que nos tem dominado e roubado há mais de 30 anos. Estão bem identificados, até porque têm sido sempre os mesmos.
No tempo da outra senhora, duraram quase meio Século mas acabaram por ser corridos.
O erro, de que também fui responsável, foi termos transformado as armas de que dispunhamos em jarras de cravos...
Estou certo de que não voltaremos a cometer esse erro.
O abraço solidário, confiante e amigo do
Álvaro Fernandes

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Amigo e Companheiro,

Honra-me e estimula-me a colaboração mútua, que nunca deixou de existir, embora em terrenos diferentes, mas não menos "pantanosos".

Honra-me a sua visita ao "Liberdade e Cidadania", bem como o lúcido e oportuno comentário.

Não sei se ainda iremos a tempo de remediar algo!
Mais um lapso e tudo terá sido vendido. E não havendo história(património), dado que a memória é curta ou não existe, será demasiado tarde.
E esse é realmente o interesse, tornar as massas amorfas, o quanto possível, para serem mais fácil e docilmente manipuladas.

Em poucos de nós existe ainda uma réstea de luitanismo ou de alguma dignidade humana.
Os que a têm, terão de superar os outros, novamente, apontando e iluminando o caminho. Será de novo, duro e difícil, mas não impossível.

De novo ombro com ombro, antes que estejamos demasiado curvados.

Forte e Fraterno Abraço,
Jerónimo Sardinha