quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

OS NÚMEROS DA VERGONHA

A vantagem dos números é que, devidamente contextualizados, quase dispensam comentários. E obrigam-nos a reflectir sobre onde estamos e para onde vamos, ou queremos ir. Pelo menos assim parece nestes números que seleccionei para partilhar com os leitores.
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1 . Vejamos os números da crise do sistema capitalista. O FMI estima que só as perdas, ao nível dos activos financeiros e empréstimos dos EUA, possam atingir 1,4 milhões de dólares. Estima-se que a capitalização bolsista, a dívida titularizada e os activos financeiros em posse dos bancos comerciais representem mais de 4,2 vezes o produto mundial.
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O valor da dívida internacional titularizada ascendia a quase 22 biliões de dólares em 2007. Ou seja, mais de 40% do produto mundial e quase 2,5 vezes o valor de 2002. Só o valor nocional dos contratos estabelecidos no mercado de derivados, em Dezembro de 2007, ascendia a cerca de 596 biliões de dólares. Ou seja, 11 vezes o produto mundial, tendo como base contratos cujo valor de mercado não chegava aos 15 biliões de dólares.
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Existiam a nível mundial, em 2007, cerca de 190 milhões de desempregados e mais de 1300 milhões de “trabalhadores pobres”. Só nas últimas décadas, estima-se que o peso dos salários no rendimento se tenha reduzido 13 pontos percentuais na América Latina, 10 na Ásia e Pacífico e 9 no centro do sistema capitalista.
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Os EUA, com 5% da população mundial, consomem 25% dos recursos disponibilizados a nível mundial. É de sublinhar que, neste país, o défice público e o défice da balança de transacções correntes, em 2007, duplicaram face a 2000, atingindo 345 mil milhões de dólares e 739 mil milhões de dólares, respectivamente.
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2 . Observemos os números em Portugal. Um terço da estrutura accionista das empresas nacionais é detido por capital estrangeiro, com uma forte presença em empresas e sectores estratégicos (EDP, 48%; PT, 64%; Galp, 50%; Cimpor, 30%; BCP, 36%). O investimento directo português no estrangeiro, IDPE, atingiu a soma de 90 mil milhões de euros a preços correntes, entre 1997 e 2005.
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Existem em Portugal 139 grandes grupos económicos, dos quais 77,6% foram criados nos últimos 18 anos em resultado directo do processo de privatização e consequente restauração dos grandes grupos monopolistas. A análise dos maiores grupos económicos nacionais no final de 2005 mostra-nos que, dos doze grupos com lucros mais elevados – com um valor superior a 250 milhões de euros – apenas dois se encontram ligados predominantemente à actividade produtiva (Cimpor: cimentos e Semapa: papel). Este conjunto de grupos económicos – ao mesmo tempo que a nossa economia crescia a um ritmo médio de apenas 1,3% entre 2004 e 2007 – viu os seus lucros aumentar de 75%, atingindo os 6800 milhões de euros, equivalentes a 4,2% do PIB.
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A estrutura empresarial da economia portuguesa é dominada por micro e pequenas empresas. Em 2006, 99,4 % do total de empresas, 49,1% do volume de negócios e 62,2% do emprego.
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O salário médio real caiu 2,6% (enquanto na OCDE cresceu 1,3%), sendo agora o quarto país com menor poder de compra. Cerca de 18% da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza. Tal como 20% das crianças e jovens até aos 17 anos e 25% dos portugueses com mais de 65 anos. Quase três milhões de portugueses vivem com menos de 10 euros por dia. Mais de 230 mil com menos de 5 euros.
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Para rematar, registe-se que o BPP só aceita clientes com um saldo médio de 1 milhão de euros. Que geria no final de 2007 activos no montante de 2 mil milhões de euros. Que teve, em 2007; lucros de 24,4 milhões de euros (+34,2% do que em 2006). E que distribuiu pelos seus accionistas, neste ano de 2008, 12,2 milhões de euros de dividendos. Só nos últimos cinco anos, esta distribuição de dividendos somou 32,1 milhões de euros.
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Conclusões?
António Vilarigues, in Público.
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COMENTÁRIO: As conclusões são óbvias. Num país como Portugal, com grandes assimetrias sociais, pobreza crónica e carências enormes, desde ensino, formação profissional, saúde, hospitais, assistência aos idosos, pensões de pobreza, este governo, autodenominado “socialista”, está a encarar a hipótese de gastar uns milhões no BPP “para proteger os depósitos dos particulares”. É mentira. O BPP não é um banco comercial e não recebe “depósitos”, no sentido de economias que as pessoas reservam para servir de almofada para imprevistos. O BPP é um clube de ricos que alguns portugueses usam para especular nas bolsas de todo o mundo para ganhar dinheiro rápido em apostas de alto risco.
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Portugueses, abram os olhos. Vejam bem o que este governo se prepara para fazer com o vosso dinheiro.

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