quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Carta-queixa de um sofrido contribuinte...

Exmo Senhor ministro das Finanças:
Ando há algum tempo para escrever-lhe a fim de lhe chamar a atenção para o facto de V. Ex.ª não estar a desempenhar à altura as suas funções de gestor dos meus impostos.
Não é nada de pessoal, até o considero um dos melhores ministros das Finanças que temos tido - o que sucede é que, mostrando-se eventualmente o Governo demasiado perdulário, V. Ex.ª é que acaba por pagar a factura. Com o meu dinheiro, pois!
Vejamos: todos os meses, vai V. Ex.ª aos meus rendimentos e retira-lhes uma fatia substancial de IRS. E gasta-a em quê? Em subsidiar o BPN. Fê-lo, disse, para evitar rotura no sistema financeiro nacional e, como bom cidadão que me prezo de ser, ainda aceitei, embora engolindo em seco.
No entanto, parece que V. Ex.ª lhe tomou o gosto e, logo a seguir, pegando nos 20% de IVA que lhe pago quando vou ao supermercado ou à farmácia, pôs-se a salvar o BPP, onde eu nunca poderia entrar pois não disponho de um mínimo de 250 mil euros para abrir uma conta. E, desta vez, argumenta que o fez para "preservar a imagem do país", não fosse a estranja pensar que cá em Portugal andamos tão mal que até os bancos estão a dar o estouro.
Desculpe lá, senhor ministro, mas esta é que não engulo! Defendeu mas foi as grandes fortunas, falemos claro!
Foi a gota que fez trasbordar a taça e me leva a fazer-lhe severas críticas à sua habilidade como meu gestor de impostos. Porque a taça vem enchendo em velocidade recorde.
Por exemplo, tendo o Estado 96 organismos ou serviços com funções de natureza consultiva, dir-se-ia que sempre que é preciso um parecer se recorre aos privados. E lá foram, entre 2004 e 2006, mais 134,1 milhões de euros para o maneta. Isso é má gestão do meu dinheiro, de que V. Ex.ª se apropria porque tenho o mau hábito de fumar ou de meter gasolina no automóvel.
Assim não pode ser, senhor ministro!
E por aí fora... Portanto, queira V. Ex.ª fazer o favor de ser mais cuidadoso na gestão dos impostos que lhe confio. Alguém tem de pagar a crise, é certo - mas por que cargas de água terei de ser só eu a pagá-la?
Sérgio Andrade
in JN

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