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É esta a grande preocupação das famílias. A nova geração de pais tenta eliminar contactos dos seus filhos com materiais potencialmente perigosos. Mas que defesas haverá contra os perigos que se escondem nos objectos ou substâncias de uso diário, como plásticos ou medicamentos? Imagine, por exemplo, que as garrafas utilizadas com o biberão do bebé prejudicam a sua saúde, ou que o analgésico vulgarmente dado às crianças acabam por fazer mais mal do que bem.
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Os activistas desta área têm levantado preocupações e perguntas desde há muitos anos acerca dos efeitos entre ambiente e saúde das crianças. Alguns preocupam-se com as toxinas existentes no ar, outros com os contaminantes transmitidos aos alimentos pelo uso permanente dos plásticos e outros agitam-se pela possibilidade de algumas crianças serem sobremedicadas. As autoridades reguladoras e os técnicos da indústria riem-se deste tipo de preocupações, que consideram exageradas, mas diversos estudos publicados esta semana talvez os levem a reconsiderar.
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Uma causa frequente de preocupação é o bisfenol-A (BFA), um polímero (vulgo termoplástico, ou simplesmente plástico) usado vulgarmente em objectos para conter alimentos, tais como caixas térmicas, garrafas transparentes para bebidas, contentores para alimentos conservados em frigorífico, garrafas para biberões, etc.. Uma ONG (Organização Não Governamental) americana chamada Work Group for Safe Markets, constituída por associações de beneficência e grupos de lobbying, publicou no início deste ano um relatório de ensaios laboratoriais que sugeriam que o BFA liberta componentes tóxicos e cancerígenos para o leite quando as garrafas são aquecidas. Outras pessoas preocupam-se que adultos tenham prejudicado a sua saúde com este plástico que é usado com frequência para revestir latas de alumínio de bebidas com uma fina película no interior.
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Este tipo de preocupações era facilmente rejeitado porque não tinha base científica – pelo menos até agora. Um estudo publicado esta semana no Journal of the American Medical Association analisa um vasto conjunto de dados que associa uma variedade de indicadores de saúde e concentrações de BFA na urina. Este último factor é importante porque, quando este plástico é ingerido, ele dispersa-se rapidamente pelo nosso corpo.
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Os investigadores, coordenados por Ian Lang da Peninsula Medical School em Exeter, no sudoeste da Inglaterra, concluíram que as concentrações mais elevadas de BFA estavam associadas a distúrbios cardíacos, diabetes e complicações de fígado. Não encontraram ligações com outras doenças. Dado que o estudo não incluiu crianças nem bebés, os pais que usam garrafas de BFA não podem ser tranquilizados por estes resultados. Pelo contrário.
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Um outro estudo independente publicado na revista Lancet pouca tranquilidade acrescenta também. Uma equipa coordenada por Richard Beasley do Medical Research Institute of New Zealand estudou as interacções entre o Paracetamol, um analgésico usado frequentemente em crianças de tenra idade, e a asma. Depois de verificar os dados de saúde de milhares de crianças de seis e sete anos que participaram no International Study of Asthma and Allergies in Childhood, eles chegaram a uma (im)prudente conclusão: o uso deste medicamento para acalmar acessos de febre em crianças com idade igual ou inferior a um ano está associado ao risco de contraírem asma com a idade de seis anos.
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Assim, cabe perguntar: Só existe tristeza e preocupação para os pais? Não necessariamente. Estes estudos valem o que valem, ou seja, não são a palavra final sobre temas tão complexos. Os autores do estudo sobre o Paracetamol dizem no parágrafo dedicado às Conclusões que “nenhuma causalidade pode ser estabelecida” num estudo estatístico como o deles. Para se saber se a ligação detectada é apenas casualidade ou causalidade, os autores recomendam que se verifiquem em ensaios aleatórios as interacções do medicamento em utilizações de longo prazo. O relatório sobre o BFA também afirma que são necessários novos estudos independentes com réplicas dos ensaios e medições feitos [no primeiro estudo] e com acompanhamento a longo prazo. Outra complicação é que a interacção entre o Paracetamol e a asma deve ser observada no seu contexto (ambiente familiar) próprio. Pela mesma razão, qualquer dano de saúde causado pelo uso de plásticos e analgésicos deve ser medido com os benefícios que eles trazem, tais como fiabilidade e eficácia. Eles também devem relacionados com os custos e os benefícios de alternativas.
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Simplesmente, abandonar duas ferramentas de utilização tão vulgar pelas famílias dos nossos tempos pode piorar as situações se, no meio de tudo, existir um estado de preocupação ou medo dos pais. Suponhamos, como mero exemplo, o que poderia acontecer se o BFA fosse substituído por novos materiais que, ao fim de alguns anos, se demonstrasse terem propriedades ainda mais prejudiciais? Estes estudos, embora não definitivos, dão razões mais que suficientes para que os cientistas que os elaboram redobrem esforços para compreender as interacções complexas entre a vida na primeira infância e a saúde na idade adulta.
The Economist
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