terça-feira, 9 de junho de 2009

A segunda vida de Manuela Ferreira Leite...

Sobre o PSD. Estão a ver aqueles jogos de computador onde a energia do herói vai diminuindo à medida que leva pancada dos adversários? Assim estava Manuel Ferreira Leite: 5% de energia, luz vermelha a piscar, cercada de inimigos, game over à vista. E eis que no último momento saca da cartola um daqueles suplementos vitamínicos que repõem a marca nos 100, ganhando um novo alento para chegar ao próximo nível. Paulo Rangel foi uma escolha pessoal sua, contra quase todo o partido e perante a surpresa da comunicação social. Mérito seu - e, sobretudo, um golpe de asa que ninguém desconfiava que Ferreira Leite pudesse ter. Há quem nasça um bom líder e há quem se torne um bom líder. Boa líder, ela manifestamente não nasceu. A noite de domingo deu-lhe o tempo que precisava para demonstrar que se pode tornar uma. Pedro Passos Coelho deve estar tão triste quanto Vital Moreira.
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Sobre o PS. Ainda a noite ia no início quando Mário Lino saiu do Hotel Altis. Para afastar os repórteres de televisão, disse que só ia ao carro buscar tabaco. Nunca mais se lhe ouviu palavra. Este sair para comprar cigarros e desaparecer no escuro é sintomático do estado em que o PS ficou na noite de domingo. Vital Moreira foi um desastre como candidato e teve o que mereceu. A sua derrota demonstra também que não é a máquina partidária e os comícios cheios que hoje em dia empurram quem quer que seja para a vitória. Quanto a José Sócrates, a queda foi estrondosa, mas justiça lhe seja feita: na hora da derrota deu a cara, não se desculpou, prometeu luta e esteve ao lado do seu candidato. Comportou-se como um homem.
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Sobre o bloco central. Desde 1985, quando surgiu o fenómeno PRD, que a soma de PS e PSD não caía claramente abaixo dos 60% numas eleições em Portugal. Esta fragmentação do espectro partidário já anda por aí a assustar os profetas da "governabilidade". Tendo em conta que já vamos em 20 anos de "governabilidade", limito-me a perguntar: aproximámo-nos da Europa? Desenvolvemo-nos como devíamos? Ganhámos com isso? A governabilidade está muito sobrevalorizada.
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Sobre o fim do capitalismo. Mário Soares deve estar um pouco confuso. Então não era suposto que a crise demonstrasse a falência dos partidos da direita, alegados representantes do neoliberalismo selvagem que conduziu o mundo ao estado em que estamos? Pelos vistos, o povo europeu é louco: confia mais na direita do que na esquerda para o tirar da crise. Soares tem aqui matéria para mais uns artigos.
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Sobre as sondagens. Já nem as noites eleitorais escapam às teorias da conspiração. Segundo o CDS, as sondagens pré-eleitorais não se enganam - as sondagens pré-eleitorais conspiram. Por todos os santinhos: mais cabalas, não.
João Miguel Tavares
in DN

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