O caso BPN não aconteceu após as revelações de Oliveira e Costa no Parlamento. O caso BPN não aconteceu após João Lobo Antunes, conselheiro de Estado e ex-mandatário da candidatura de Cavaco Silva, ter "aconselhado" Dias Loureiro a abandonar o cargo de consultor do presidente da República, invocando o "dever patriótico".Mas o caso BPN, para Dias Loureiro, só parece ter acontecido após esta dupla sucessão de acontecimentos.
Por mais que o ex-ministro do PSD alegue que a sua saída do Conselho de Estado andava a ocupar-lhe os pensamentos há duas semanas, custa acreditar que não o tenha feito por causa dos mais recentes episódios e por "sugestão" não declarada do presidente da República. Sobretudo, porque aquele sai-não-sai ameaçava empurrar para terrenos movediços a credibilidade de Cavaco Silva.
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Dias Loureiro não pode invocar, como fez, que decidiu o que decidiu (terá mesmo decidido?) por haver quem achasse que estava a escudar-se na imunidade do cargo para evitar uma qualquer convocatória judicial. Dias Loureiro não pode querer que o país acredite que teve, ao fim de este tempo todo, um rebate de consciência. E dizer deste tempo todo é dizer, como ele próprio sublinhou, "sete meses a ouvir tipos e notícias nos jornais". Dias Loureiro não é culpado de nada. Não foi constituído arguido nem considerado suspeito. Mas não o é hoje como não o era há sete meses. Por isso, é fácil concluir que saiu contrariado.
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Mas Dias Loureiro é apenas uma das pontas deste novelo. E não é pelo facto de Oliveira e Costa, na sua qualidade de presidiário, convém não esquecer, ter ido ao Parlamento verbalizar todos os ressentimentos que andou a acumular ao longo de meio ano nos calabouços da Polícia Judiciária que faz de um o bonzinho e do outro um impostor.
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O caso BPN é o resultado de uma gestão fraudulenta, mas de uma gestão fraudulenta colectiva. Não é produto de um homem só.De resto, não podia esperar-se que Oliveira e Costa tivesse dito aos deputados algo de muito diferente do que foi transmitido. Porque o ex-homem forte do BPN foi ao fundo, mas deixou bem claro que não quer lá ficar sozinho. Político e judicial, sem dúvida, o caso BPN é, também e muito, a história sul-americana de uns ex-comparsas agora desavindos que sabem muitos segredos uns dos outros.
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Não devemos, porém, distrair-nos do essencial: o dinheiro, onde pára o dinheiro? Sim, porque se estima que o Estado já tenha injectado, naquele banco mal gerido, qualquer coisa como 1,4 mil milhões de euros. Uma quantia descomunal que nem dá para mensurar. Para ajudar à festa, ontem, os responsáveis da Sociedade Lusa de Negócios vieram reclamar uma indemnização de 400 milhões de euros pela nacionalização do banco. Que o Governo não quer dar.
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Por isso, apurem-se as responsabilidades, esclareçam-se as manigâncias contabilísticas e as danças das off-shore, mas não se transforme este caso numa teia tão enredada de factos e sound bites que, no final, a sua génese fique ligada a um mau acompanhamento da supervisão bancária, ao efeito nocivo e sistémico do colapso dos mercados ou ao anticiclone dos Açores.
O caso BPN tem culpados.
E não são certamente os contribuintes portugueses.
Pedro Ivo Carvalho
in JN
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