sábado, 13 de junho de 2009

Europeias: razões e paradoxos...


As recentes eleições europeias suscitam, por diversas razões e paradoxos, uma reflexão que se quer profunda e continuada. Desde logo, porque paradoxalmente - e justamente num momento de crise propício para se discutir as melhores formas de prosseguir a construção europeia - na maioria dos estados-membros da União o debate interno sobre o presente e o futuro da Europa foi inexistente.
Depois por, nestas eleições, o mal-estar dos eleitores se ter traduzido, por um lado, numa acentuadíssima taxa de abstenção - que se em Portugal se situou nos 63%, na maioria dos países do Leste europeu se cifrou acima dos 70%, e em países como a Holanda e o Reino Unido superou os 60% - e, por outro, num aumento do número de votos em favor dos pequenos partidos, sobretudo ao extremo do espaço político.

Estes dois factos, diga-se, não surpreendem. Tradicionalmente, estas eleições são o momento de protesto escolhido pelos eleitores descontentes para se abster ou votar em partidos que em escrutínio nacional permanecem geralmente pouco significativos.
Mas talvez a razão principal para uma reflexão pós-europeias 2009 resida no facto de o voto europeu se ter dirigido expressivamente à Direita.
Ora, em momento de crise económica e social, a pergunta que naturalmente se coloca é: por que razão rumou a Europa tão à Direita?

Aqui importa responder que, a par de outros, uma das razões preponderantes terá sido, sem dúvida, a falta de união e também de orientação que acompanhou o Partido Socialista europeu em vésperas de eleições. Tíbio e sem saber chegar aos eleitores, firmando-se como alternativa, a verdade é que o Partido ASocialista europeu contou - só para alguns de forma inesperada - com um poderoso adversário: a aliança de Direita europeia liderada por Merkel e Sarkozy. Procurando mobilizar especialmente alemães e franceses, mas dirigindo-se aos europeus, estes dirigentes da Direita defensora de um inequívoco liberalismo económico juntaram-se, uma semana antes das eleições, para publicamente apelar (paradoxalmente) a uma denominada "Europa forte que protege", isto é, de uma Europa que proteja a sua indústria da concorrência desleal e, consequentemente, o emprego em cada Estado. Sem surpresa, em conjuntura de crise este discurso de protecção da economia, do emprego e do interesse nacional obteve receptividade nestas europeias.

Lá diz o ditado "a união faz a força" e, ao que parece, Merkel e Sarkozy têm união e mote político para os próximos tempos.

Gória Rebelo, in JN

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