segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Lunáticos


Há séculos que não me lembrava dele. Pelo menos desde os tempos em que, na sala de aula, abria por indicação do professor, o livro de História no capítulo da Revolução Industrial. Hoje fiz uma pesquisa usando um vocábulo que, aparentemente, nada tem a ver com a palavra watt e esbarrei no esqueleto de Sir James. Como sabemos, nem sempre as conexões, analogias e outras afinidades se apresentam de forma óbvia e, às vezes, é preciso puxar um fio, tocar num botão ou clicar em algo quase invisível para se perceber onde se formam os elos. Pois foi mais ou menos assim que fui dar a um sítio assombrado onde, provavelmente, o espectro do matemático que aperfeiçoou a engenhoca a vapor inventada por Thomas Newcomen, celebrava mais um aniversário. Estava acompanhado de antepassados de várias gerações, de seus pais, das duas esposas, do rancho de filhos e de alguns amigos, entre eles Matthew Boulton com quem fundou a empresa Boulton & Watt. Digo que era festejo por ser 19 de Janeiro e estarem os esqueletos reunidos em frente de uma vitrina, num canto virtual da Biblioteca Central de Birmingham, onde estavam expostos manuscritos e outros trabalhos de James Watt. Pareciam todos muito quietos e calados talvez porque, depois de tanto tempo deitados nas tumbas, tenham perdido a faculdade de emitir sons e a possibilidade de se desconjuntarem também fosse enorme. Percebi logo que seriam avessos a uma birthday party como se faz nos dias de hoje e afastei a mente das ideias de bolo, de velas, de música, de serpentinas e de cornetas. Não queria, de todo, dar uma imagem de falta de respeito pela presença de pessoas sérias que deixaram contributos consideráveis e decisivos para o progresso da humanidade. No entanto, de uma coisa tive a certeza. Aquilo era um encontro de ilustres membros (cientistas, inventores, filósofos, etc) da Sociedade Lunar de Birmingham. Lunáticos, portanto.



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James Watt - 19/01/1736 - 25/08/1819

Birmingham Central Library

Britain Unlimited

The Lunar Society

3 comentários:

zigoto disse...

Desde que o Universo dispôs da Terra e da Lua - quando a Humanidade passou a olhar para cima, ficou fascinada com o luar.
E não descansou enquanto não pôs lá um pé. Lembram-se?
Foi em 1969.
Ainda bem que sempre houve, e continuarão a existir "lunáticos".
É desses, e só desses, que depende a concretização da Utopia e o progresso.
O resto...são cadáveres adiados e ambulantes que teimam em não perceber que:
"o mundo pula e avança/como bola colorida/entre as mãos de uma criança" - como há muito cantou o poeta da pedra filosofal.
O contrário é como passar pela Vida sem a viver.

Graça Brites disse...

Zigoto,

Amen!

Anónimo disse...

Olá!
Faz falta a este país desencantado meia dúzia de lunáticos! De certeza, que todos estaríamos todos mais felizes!
Bjs