VPV faz aqui algumas perguntas que muitos portugueses fazem sobre a competência dos nossos políticos e que são a razão da desconfiança com que os vêem. No fundo tudo se resume a uma pergunta muito simples: para que serve esta classe política se apenas conseguiu, até agora, acentuar a crise que carregamos desde 1975 e que se aprofundou a partir de 1995? Por isso eu decidi que nunca mais votaria em qualquer dos partidos que têm alternado no governo.
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Na usual sessão comemorativa do 25 de Abril, o sr. Presidente da República resolveu fazer um longo e comovedor apelo ao voto. O voto, disse ele, é um acto cívico e um acto de responsabilidade. Os portugueses têm de escolher quem os governa e, sobretudo, como querem ser governados. Toda a gente conhece esta conversa. E os cavalheiros presentes, como se esperaria, concordaram com a coisa, tanto mais que as sondagens prevêem uma abstenção enorme. Mas Cavaco não explicou porque razão, ao fim de 35 anos de democracia, era ainda precisa esta espécie de “magistério”, como ele gosta de lhe chamar. Talvez por causa da circunstância e do auditório, talvez porque pura e simplesmente não sabe ou talvez porque, sabendo, não pode ou não lhe convém dizer.
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E, no entanto, a crescente indiferença do país pela política não é um mistério. O cidadão comum despreza os partidos – pela sua ineficácia, pela sua hipocrisia e pela sua mais do que notória corrupção. Entre ele e os partidos quase só há hostilidade e desconfiança. A hostilidade e desconfiança que o indivíduo isolado invariavelmente sente por sociedades para iniciados, que defendem e partilham interesses pouco claros. Ninguém percebe ao certo as guerras do PSD ou a súbita submissão do PS a Sócrates. Para já não falar do que separa o PS do PSD e o PSD do CDS ou do que, lá no fundo, pretendem o Bloco e o PC. Esse universo não é o universo da vida vulgar. É um universo à parte, que não obedece às mesmas regras, não fala a mesma língua e não sofre naturalmente a mesma angústia ou o mesmo desespero.
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O votar é, em teoria, um exercício de poder. O voto, em teoria, muda, rejeita, sustenta, corrige. Infelizmente, em Portugal, o voto não é poder. Com o PS, com o PSD ou com o PSD com o CDS, o país continuou como de costume na sua tristeza e na sua miséria. Mais do que isso, piorou. E agora, de repente, a classe dirigente inteira (incluindo o Prof. Cavaco) decide prevenir que, para lá da crise mundial, a nossa crise, cuidadosamente alimentada desde 1995, nos promete um lamentável futuro. Por onde andavam as luminárias de hoje, quando pouco a pouco o actual sarilho se foi armando? Provavelmente no governo; inevitavelmente nos partidos – com o seu profissional optimismo e os seus largos sacos de promessas. Que o sr. Presidente me desculpe, mas tenho de lhe perguntar: quem acredita – em 2009 – que votar é de facto um acto cívico e um acto de responsabilidade?
Vasco Pulido Valente, Público
terça-feira, 26 de maio de 2009
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