segunda-feira, 4 de maio de 2009

Triste unanimidade...

Os meninos e as meninas da chamada Casa da Democracia cozinharam muito em segredo umas alterações à lei do financiamento dos partidos.
Pela calada da noite, sem ondas nem debates escaldantes, trotskistas, comunistas, verdes, socialistas, sociais-democratas e centristas deram uma valente machadada num diploma que, em nome dessa coisa extraordinária a que chamam transparência, tinham aprovado há bem pouco tempo.
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A partir de agora, os partidos políticos podem receber em dinheiro vivo um milhão e duzentos mil euros, 55 vezes mais do que o montante definido anteriormente.
Mas mais do que isso, qual cereja em cima do bolo, os partidos políticos não são responsabilizados se, por exemplo, um pato-bravo muito agradecido decidir mandar imprimir uns cartazes com as fronhas dos líderes partidários ou do autarca lá da terra.
Essas despesas, obviamente, não entram nas contas das campanhas eleitorais, não são considerados actos de corrupção e estão muito longe de configurar qualquer crime de tráfico de influências.
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Os partidos não têm culpa da generosidade do pato-bravo e este, coitado, vai sempre dizer que só quis exprimir o seu amor à democracia e ao partido que tantos sacrifícios faz pelos indígenas. Do conjunto de 230 meninos e meninas, apenas um votou contra esta vergonha e outra optou pela abstenção. Os dois do partido do senhor presidente do Conselho.
Tudo isto acontece numa altura em que aumenta o desemprego, há milhares e milhares de pessoas desesperadas e outras tantas com medo de ficarem de um dia para o outro sem trabalho. Tudo isto acontece depois de o senhor Presidente da República ter feito um apelo solene à contenção e de ter pedido expressamente aos partidos que tenham respeito pelos indígenas.
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Obviamente que a tentação do dinheiro falou mais alto. Obviamente que esta atitude unânime revela a degradação ética e moral a que chegaram os partidos deste sítio manhoso, pobre, deprimido, cada vez mais miserável e obviamente cada vez mais mal frequentado.Depois façam-se de virgens ofendidas, aos gritinhos, muito indignados, a falar em liberdade, democracia, tolerância e outras patacoadas.
Depois de mostrarem tanto desprezo por quem sofre as consequências de políticas económicas criminosas, tudo o que de mal acontecer a estes políticos é bem merecido.
Temos muita pena, mas o direito à indignação é como o Sol. Quando nasce é para todos.
António Ribeiro Ferreira
in CM

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