Os partidos duplicaram o montante máximo que irão poder receber dos privados. Devem conhecer bem "O Poder do Dinheiro" de Karl Marx
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Não são bons sentimentos o que vos trago. Pelo contrário. Estou até um pouco irritado e indisposto. Estou até cheio de maus fígados porque vejo que me enganaram, melhor, que nos enganaram. Comecemos pelo princípio.
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Calhou-me há tempos ler um texto de Karl Marx, chamado "O Poder do Dinheiro". Sempre que leio Marx apercebo-me de que o barbudo acertou em imensa coisa, mesmo que tivesse falhado depois no essencial. Esse texto sobre a força do vil metal foi escrito em 1844. E é a melhor prosa que alguma vez li sobre o assunto.
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O que nos diz Marx é sucintamente o seguinte: o dinheiro define não só a minha individualidade para mim próprio, como a minha individualidade para os outros. Ser é poder? Para Laurinda Alves, talvez.
Ser é, acima de tudo, ter (corrigindo Marx, o melhor seria dizer: também é ter). Se eu for feio, burro ou tímido, o simples facto de ter dinheiro torna-me capaz de atrair mulheres bonitas, de parecer in- teligente, de me apresentar confiante e próspero aos olhos dos outros. O dinheiro transforma as insuficiências do seu portador em virtudes que ele não possui naturalmente. Por isso, acrescenta Marx, o dinheiro distorce as qualidades como elas na realidade são. Onde pensávamos que existia estupidez, infidelidade, mau gosto e fealdade, passamos a ver mérito, fidelidade, bom gosto e perfeição.
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Suspeito que os nossos partidos devem conhecer esta peça marxista de trás para a frente. Porque, se não for assim, não irei perceber o que os fez aprovar há dias uma nova lei de financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. Num ano, note-se, de eleições e crise económica, assaltou-lhes a urgência súbita de mudar as regras do financiamento privado para que o dinheiro passe a jorrar com mais força e destreza dentro dos cofres das direcções. Querem mais dinheiro os partidos? Pois claro. E não tiveram meias-medidas.
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Estamos a falar da duplicação do montante máximo que os partidos irão poder receber dos privados como contribuições dos militantes e an-gariação de fundos. Tudo sob a desculpa de que a Festa do Avante rende ao PCP dinheiro que a lei não permite contabilizar.
Mas o que podia ter sido uma excepção só para situações limitadas, converteu-se numa regra geral para todos.
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Anteontem, em resposta aos críticos que logo começaram a falar em malões e Capelos Regos, o deputado do PS Ricardo Rodrigues quis ser pedagógico: não haverá dinheiro que não fique sujeito às regras de transparência e ao controlo dos tribunais. Mas o que conta é o resultado final: o dinheiro vem aí, há-de vir. Fora alguns beneméritos, estão todos de acordo. Este também é o bloco central.
Pedro Lomba
in i
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Calhou-me há tempos ler um texto de Karl Marx, chamado "O Poder do Dinheiro". Sempre que leio Marx apercebo-me de que o barbudo acertou em imensa coisa, mesmo que tivesse falhado depois no essencial. Esse texto sobre a força do vil metal foi escrito em 1844. E é a melhor prosa que alguma vez li sobre o assunto.
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O que nos diz Marx é sucintamente o seguinte: o dinheiro define não só a minha individualidade para mim próprio, como a minha individualidade para os outros. Ser é poder? Para Laurinda Alves, talvez.
Ser é, acima de tudo, ter (corrigindo Marx, o melhor seria dizer: também é ter). Se eu for feio, burro ou tímido, o simples facto de ter dinheiro torna-me capaz de atrair mulheres bonitas, de parecer in- teligente, de me apresentar confiante e próspero aos olhos dos outros. O dinheiro transforma as insuficiências do seu portador em virtudes que ele não possui naturalmente. Por isso, acrescenta Marx, o dinheiro distorce as qualidades como elas na realidade são. Onde pensávamos que existia estupidez, infidelidade, mau gosto e fealdade, passamos a ver mérito, fidelidade, bom gosto e perfeição.
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Suspeito que os nossos partidos devem conhecer esta peça marxista de trás para a frente. Porque, se não for assim, não irei perceber o que os fez aprovar há dias uma nova lei de financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. Num ano, note-se, de eleições e crise económica, assaltou-lhes a urgência súbita de mudar as regras do financiamento privado para que o dinheiro passe a jorrar com mais força e destreza dentro dos cofres das direcções. Querem mais dinheiro os partidos? Pois claro. E não tiveram meias-medidas.
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Estamos a falar da duplicação do montante máximo que os partidos irão poder receber dos privados como contribuições dos militantes e an-gariação de fundos. Tudo sob a desculpa de que a Festa do Avante rende ao PCP dinheiro que a lei não permite contabilizar.
Mas o que podia ter sido uma excepção só para situações limitadas, converteu-se numa regra geral para todos.
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Anteontem, em resposta aos críticos que logo começaram a falar em malões e Capelos Regos, o deputado do PS Ricardo Rodrigues quis ser pedagógico: não haverá dinheiro que não fique sujeito às regras de transparência e ao controlo dos tribunais. Mas o que conta é o resultado final: o dinheiro vem aí, há-de vir. Fora alguns beneméritos, estão todos de acordo. Este também é o bloco central.
Pedro Lomba
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