quinta-feira, 14 de maio de 2009

A ECONOMIA PORTUGUESA

A revista The Economist publicou um artigo dedicado à situação económica de Portugal com o intrigante título “Socratic Dialogue”, o que prova que a sua preparação passou por conversas com alguns indígenas. Por ser coisa que raramente acontece, dada a irrelevância do Portugalete no contexto global, este artigo não passou despercebido. É curioso ver como o Portugalete é visto por um jornalista inglês que não reside neste recanto remoto e esquecido da “Europa” e que o visita raramente.
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Os portugueses estão entre os povos mais sorumbáticos da Europa. De acordo com uma sondagem da Eurobarómetro, 92% dos portugueses vêem a situação económica como muito má, pouco mais de 95% estão apreensivos acerca das suas perspectivas de emprego e cerca de 50% estão “insatisfeitos com a sua qualidade de vida”. Dentro da União Europeia, só alguns povos do Leste, como da Hungria e da Bulgária, são tão taciturnos. Porquê tanto pessimismo?
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José Sócrates, o primeiro-ministro Socialista, poderia oferecer razões para serem mais alegres. Portugal não experimentou uma grande explosão imobiliária como em Espanha e Irlanda. Os seus exportadores estão a penetrar em novos mercados, particularmente Angola e Brasil. Angola, cujo PIB (Produto Interno Bruto) cresce muito perto de 10% ao ano, é agora o quarto maior mercado português de exportação. Por ter evitado a maioria dos activos financeiros “tóxicos”, os bancos portugueses permaneceram relativamente sãos. E através do impulso dado aos investimentos em energias renováveis, o governo fez de Portugal um modelo de como estimular a economia sem aumentar a emissão de carbono. Os investimentos no sector no montante de 14 mil milhões de euros criarão 22.000 empregos até 2020, quando Portugal produzirá cerca de 60% da sua electricidade a partir de fontes energéticas limpas, francamente acima da meta estabelecida pela União Europeia de 20%.
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Mas ainda é difícil elogiar estas acções quando o desempenho global da economia foi tão baixo. Este ano espera-se que o PIB contraia cerca de 3,5%, aumentando o desemprego para cerca de 8,5%. Estes valores não podem ser encarados com alegria, mas o verdadeiro problema é que eles aparecem depois de uma década de crescimento económico abaixo da média europeia. O PIB por cabeça caiu de cerca de 80% da média europeia de há dez anos para cerca de 75% em 2008. Longe de convergir para a média europeia, Portugal atrasou-se ainda mais ampliando a diferença (ver gráfico seguinte).

Este gráfico é eloquente porque permite comparar as posições relativas do PIB por pessoa, dos países nele mencionados, expresso em percentagem da média da UE 27 (linha vermelha). O país em melhor posição é a Irlanda porque está muito acima da média. A Espanha está dentro da média europeia. Portugal está muito abaixo da média (mas não é o mais baixo da UE a 27).
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Parte da causa foi a integração no euro em 1999 que “empurrou” as taxas de juro para valores muito baixos. Os portugueses recorreram avidamente ao crédito para comprar casas, automóveis e bilhetes de avião. O crédito acessível e barato, juntamente com os aumentos de salários, estimulou as importações e dilatou o défice da balança comercial para 12% do PIB em 2008. Para piorar a situação, a produtividade manteve-se estagnada. Em vez de compensar o mercado interno limitado, as exportações mantiveram-se teimosamente paralisadas em 30% do PIB, menos do que na maioria dos pequenos países europeus comparáveis com Portugal. Para aumentar a sua competitividade, Portugal necessita de legislação do trabalho mais flexível, menos burocracia, uma força de trabalho mais instruída, mais competição interna e um estado mais pequeno. Como o FMI afirma num relatório recente, as maiores dificuldades do país são de natureza estrutural interna e não de natureza global. Mas os governantes têm dificuldade em fazer reformas. Apesar das dificuldades, Sócrates pode ganhar a eleição de Outubro do corrente ano, mesmo que perca a maioria absoluta.
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O primeiro-ministro tem poucas razões para se mostrar animado. No que ele chama uma “campanha negra de fugas de informação seleccionadas e manipuladas” para prejudicar as suas possibilidades eleitorais, os meios de informação social passaram meses a discutir um alegado escândalo de corrupção sobre a aprovação de um novo centro comercial em 2002, quando Sócrates era Ministro do Ambiente. Sócrates nega qualquer irregularidade ligada ao caso ao mesmo tempo que as autoridades judiciais afirmavam que nenhum político estava envolvido. Mas o facto de a investigação iniciada em 2005 estar ainda em desenvolvimento mostra a ineficácia e os atrasos do sistema judicial, outro falhanço que prejudica a competitividade, desencoraja o investimento estrangeiro – e deixa os portugueses muito desanimados.

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