terça-feira, 12 de maio de 2009

Do rio que corre se diz que é violento…

A opção do poder político e do circo mediático que o acompanha, em apresentar os acontecimentos da Bela Vista, em Setúbal, como um caso de polícia, dando uma resposta exclusivamente policial a problemas fundamentalmente sociais, parecem querer atiçar fogueiras que já arderam na França, Grécia e outros locais.
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Com um desemprego que, de acordo com o Observatório Municipal, atinge os 23,5 por cento, o bairro sofre problemas comuns a todos as zonas afectadas pela pobreza, particularmente atingidas com as consequências da crise económica.
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Será com uma intervenção social urgente que se poderá minorar as razões que levam à revolta e aos distúrbios violentos. Não com o reforço da imagem de "gueto" cercado e ocupado por forças policiais.
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Como disse D. Manuel Martins ( que continua, de facto, a ser o bispo de Setúbal) "o que importa é garantir o pão". Sem isso, podem-se mobilizar muitas companhias do Corpo de Intervenção da PSP, que a questão continuará.
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Aos comentadores de serviço do sistema, que já inventam o fantasma de "grupos extremistas", é necessário dizer que o "extremismo" vem do desemprego, da pobreza, da "guetização", não de qualquer organização oculta.
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Esperemos que em Portugal não triunfem os aprendizes de Sarkozy, que não hesitou em hostilizar as populações dos bairros sociais dos arredores de Paris, optando pela repressão policial, para que a segurança se tornasse a sua principal arma eleitoral.
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Como dizia Brecht, "do rio que corre se diz que é violento, mas ninguém fala das margens que o comprimem".
Álvaro Arranja
in Esquerda.Net

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