segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bloco central, ninguém o quer mas todos o discutem...

O tema do bloco central está na moda. É o álibi perfeito para se continuar a discutir o vazio e adiar o debate de propostas políticas concretas.
Os políticos queixam-se do desinteresse dos portugueses pela Europa, mas mesmo em contagem decrescente para as mais importantes eleições europeias são os primeiros a varrer os temas europeus para segundo plano.
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Apesar de o cenário de bloco central ser improvável - desde logo pela comprovada incompatibilidade de personalidades de José Sócrates e Manuela Ferreira Leite -, os efeitos colaterais da discussão junto do eleitorado são imprevisíveis.
Para mais quando muitas das posições ouvidas são sustentadas em pressupostos erróneos, como o do virtuosismo do bloco central da década 80, esquecendo, entre outros aspectos, que foi nesse período que nasceram muitos dos vícios clientelistas ainda hoje vigentes nos partidos e no aparelho do Estado.
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O PSD, apesar das engasgadas palavras de Ferreira Leite sobre o assunto, é talvez o que terá mais a ganhar em manter viva a sombra de uma coligação, por enfraquecer as razões invocadas pelo PS para pedir nova maioria absoluta.Para os socialistas, no entanto, também nem tudo é negativo.
A tese do bloco central é, aliás, além do joker Manuel Alegre, do melhor que o PS tem para tentar diluir a crescente subida dos seus adversários de esquerda, PCP e Bloco, a quem todas as sondagens atribuem um quota de 20% do eleitorado.
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Tudo isto no plano político, o único em que tem sido debatido o bloco central. Porque se a discussão deixar o cais da especulação e rumar às águas da realidade, percebe-se que uma coligação PS/PSD ou é impossível ou inútil.
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Impossível, porque isso implicaria consensos em questões tão fracturantes como a construção do novo aeroporto ou do TGV. Ou inútil, porque, como se viu em Espanha nos anos que se seguiram à adesão à União Europeia, consensos parlamentares nas políticas estruturais do País (justiça, saúde, economia, etc.) são tão ou mais importantes para assegurar um desenvolvimento estável e sustentável do que uma coligação governamental.
Infelizmente, porém, consensos em nome do interesse colectivo é moda intemporal entre os nossos responsáveis políticos, incapazes de alguma vez os porem em prática.
Rui Hortelão
in Expresso

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