segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SINAIS DO TEMPO

O Dr. Dias Loureiro queria mesmo ir dizer com solenidade à Assembleia da República o que disse com solenidade e com um arzinho macilento à RTP? Queria mesmo explicar que “não sabia”, que lhe disseram, que ele, coitado, ia acreditando e que “não achava nada”? Queria mesmo confidenciar aos srs. Deputados que prevenira o Banco de Portugal, um ponto essencial que, segundo o Expresso, nem António Marta nem Vítor Constâncio confirmam? Onde se meteu o senso deste conselheiro de Estado e, já agora, o senso da gente que se espantou por o PS ter impedido um exercício absurdo e fora de toda a tradição parlamentar?
.
E, por falar de senso, onde está a cabeça do PSD, quando a menos de um ano de eleições volta a falar em mudar de chefe, por causa de meia dúzia de gaffes da dra. Ferreira Leite e do habitual desconsolo com o resultado das sondagens? Não a elegeu há seis meses? Pensa seriamente que ainda consegue descobrir num canto obscuro do partido um salvador chegado direitinho do Céu? Ou que esse salvador é um jovem maravilha que não se cansa de comer febras de porco e, na vida civil, se chama Pedro Passos Coelho? Ou talvez, nunca se sabe, o célebre “Mourinho de Cavaco”, Alexandre Relvas, que passaria a “Mourinho do PSD”? Ou até, apesar da sua púdica recusa, o mágico Marcelo, sempre suspeito de puxar os cordelinhos por detrás da cortina?
.
E onde pára a tão gabada habilidade do governo? Na fulminante nacionalização do BPN, com que o Estado – pela Caixa – em poucos dias gastou galhardamente mil milhões de euros do contribuinte (contra os 400 que Cadilhe lhe pedira)? Na ideia de fazer dos bancos denunciantes, para bem do défice e glória de Sócrates? Na proibição judiciosa de dar o horroroso nome de “estagnação” a um crescimento de 0,1%? Num Conselho de Ministros formal e extraordinário sobre a avaliação de professores, que era inútil muito antes de começar? Ou na “estratégia” de “isolar os sindicatos”, como se os problemas desaparecessem com eles?
.
Uma pessoa abre o jornal ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocrática de 1930. Umas vezes, subtil; outras vezes, muito taxativa e franca. Umas vezes nostálgica, outras vezes, quase triunfante. A miséria geral e a perspectiva de uma miséria maior, a fraqueza do regime e uma irritação crescente anunciam o caos. Manifestamente, a bota deixou de rimar com a perdigota.
Vasco Pulido Valente, in Público

Sem comentários: