segunda-feira, 24 de novembro de 2008

António Gedeão...Foi um Poeta e Historiador da Ciência...

António Gedeão
António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, (Lisboa, 24 de Novembro de 1906Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. Concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente.
Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX.
Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo.
A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990).
Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia.
Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973).
Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada.
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Poema
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Lágrima de preta
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Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
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Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
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Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
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Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
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Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
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nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

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