terça-feira, 11 de novembro de 2008

Partiu Miriam Makeba



Cantora morreu no final de um concerto de apoio ao autor de 'Gomorrah'

Roberto Saviano escreveu Gomorrah, livro publicado em 2006 que expôs detalhes e segredos da Camorra, a máfia napolitana. As mesmas páginas foram transformadas em filme já este ano e Saviano acabou ameaçado pelas organizações criminosas da cidade italiana. Miriam Makeba, nome maior da música sul-africana e activista pelos direitos humanos, esteve em Itália para um concerto de apoio ao jornalista-escritor. Após a actuação, Makeba foi vítima de um ataque cardíaco. Acabaria por morrer, com 76 anos.

Nelson Mandela figurava entre os nomes que apelidavam Miriam Makeba de "Mama Afrika", título garantido pela voz incansável tanto no canto como na denúncia. Na verdade, o seu desaparecimento seria sempre motivo de notícia, e não apenas porque associada a uma controversa aparição pública que levou os meios de comunicação de todo o mundo a procurar eventuais teorias conspirativas. Mas a sustentação de tais hipóteses faz-se de fragilidades. Para a história fica o percurso de uma cantora convicta da transformação latente nas canções que interpretava. Mesmo a sua última prestação em Caserta, quis lembrar que, naquela localidade, foram assassinados seis imigrantes originários do Gana - a autoria do massacre está associado às associações criminosas descritas no livro de Roberto Saviano.

Miriam Makeba mostrou os primeiros sinais de uma vincada personalidade artística na década de 50, quando o bairro de Sophiatown, nos subúrbios de Joanesburgo, atraía os cosmopolitas mais curiosos pelas manifestações artísticas. A segregação imposta pelo regime de apartheid acabou por afastar os negros dos circuitos culturais, mas aquela que seria mais tarde rebaptizada como a "imperatriz da canção africana" encontrou a melhor forma de dar continuidade à sua vontade artística. Encontrou a parceria perfeita com Hugh Masekela, o trompetista que a influenciou em definitivo a desenvolver a linguagem musical que melhor a serviu: um cruzamento entre a tradição africana e o jazz.

Come Back, Africa, documentário revelado em 1959, transformou Miriam Makeba num símbolo da luta antiapartheid. Ao mesmo tempo, foi--lhe negada a entrada na África do Sul durante os 30 anos seguintes. Colaborações assinou-as com nomes tão distintos como Dizzy Gillespie ou Paul Simon. As distinções surgiram tanto de John Kennedy como das Nações Unidas. A autora de títulos como Pata Pata, The Click Song ou Malaika estava em digressão pelo mundo desde 2005, naquela que tinha já sido anunciada como a sua tour de despedida.
In DN

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