segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tiro no pé


o caderno de Saramago

Académico

por José Saramago*

Que se me perdoe a vaidade de o vir anunciar aqui: sou académico correspondente da Academia Brasileira de Letras na vaga deixada pelo falecimento do escritor francês Maurice Druon, de quem recordo haver lido, há incontáveis anos, em edição portuguesa da Arcádia se a memória não me falha, um romance intitulado As grandes famílias, na tradição da melhor ficção novecentista. Deu-me a agradável notícia Alberto da Costa e Silva, poeta de excelência, também embaixador, que o foi em vários países, entre os quais Portugal, historiador competente de temas africanos, leia, quem o ignore, por exemplo, essa obra notabilíssima que é A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Eis-me portanto académico no país que mais amo depois do meu, o Brasil. É como estar em casa, com a diferença, nada despicienda, do afecto de que nos rodeiam, sentimento que a pátria às vezes se esquece de manifestar, como se ter-nos feito nascer em Lisboa ou na Azinhaga já fosse honra suficiente. Em Outubro lá irei, a apresentar um novo livro e a sentar-me à sombra da estátua de Machado de Assis. E ainda dizem que a vida não tem coisas boas….

In DN

Ó Saramago, desde quando um Prémio Nobel da Literatura, com vários doutoramentos "honoris causa", tem necessidade de apregoar pessoalmente - ainda por cima numa coluna de opinião - que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras?
Ah! Só mais duas coisinhas: se a Pilar descobre que se gaba de ser
"académico no país que mais amo depois do meu, o Brasil"... ou muito me engano ou temos o caldo entornado aí por Lanzarote.
E que dirá o Jerónimo do seu apoio declarado ao António Costa (do PS) em detrimento do candidato do seu PCP, o Ruben de Carvalho? No mínimo, o comité central em polvorosa.

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