terça-feira, 4 de novembro de 2008

A importância de ter sido...


Havia, antes do 25 de Abril, uma frase que se dizia para ridicularizar o sistema e mostrar como as "elites" de então se governavam.
"Mais importante do que ser do Governo, é ter sido".
Com efeito, com Salazar e Caetano, muita gente se "sacrificou" durante uns anos no Governo, garantindo depois a presidência de uma empresa, um conselho fiscal ou uma remuneração de luxo como consultor privilegiado. Hoje, chamar-se-ia a uma frase assim um "sound byte". Fica no ouvido e atinge o alvo com rapidez e eficácia.
Lembrei-me da frase a propósito do BPN, agora nacionalizado, à frente do qual esteve sempre José Oliveira e Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no tempo de Cavaco Silva.
O banco era, aliás, frequentemente apontado como um paraíso onde destacados dirigentes do PSD eram, terminadas as tarefas governamentais e/ou partidárias, recebidos de braços abertos. Dias Loureiro, Daniel Sanches, outro ex-ministro da Administração Interna e ex-director do SIS, Rui Machete, actual presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e ex-titular de diversos cargos governamentais pelo PSD, Amílcar Theias, ex-ministro do Ambiente de Durão Barrosso, Arlindo de Carvalho, ex-ministro da Saúde de Cavaco, Joaquim Coimbra, ex-membro de comissões políticas do PSD e, agora, um dos principais accionistas do banco, todos estes ocuparam cargos nos órgãos sociais do grupo.
Mencioná-los aqui, obviamente, não os torna culpados de coisa alguma, nem é esse o intuito. O objectivo é justificar como me ocorreu aquele "sound byte".
Há entre estes nomes gente muito competente do ponto de vista académico e político e há também gente que, se por um qualquer motivo não tivesse passado por um cargo político, levava o resto da vidinha recatadamente longe dos palcos da alta finança.
Mas neste caso BPN o que é realmente importante, e deverá ser analisado para evitar que o mesmo ocorra em casos futuros, é o tempo que o governador do Banco de Portugal demorou até reconhecer que era necessário intervir.
Muitos sinais que hoje são reconhecidos como evidentes alertas de irregularidades graves foram ignorados por quem detinha a obrigação da supervisão bancária. Pensar que isso aconteceu porque no BPN estava "gente conhecida" não faz sentido nenhum.
O que faz sentido é criar novos mecanismos de controlo de forma a que o Banco de Portugal garanta que intervém a tempo e que os contribuintes não verão uma fatia importante dos seus impostos a cobrir erros, artimanhas, habilidades ou negócios ilícitos de quem quer que seja.
José Leite Pereira
in JN

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