Andam mil olhos a vigiar a anciã que governa o PSD - Menezes, Passos Coelho, pelo menos metade do Governo (a outra metade tem por missão manter-se atenta aos movimentos de Manuel Alegre), toda a direcção do grupo parlamentar do PS.
A cada deslize verbal, pimba, caem-lhe em cima. Um de cada vez ou em conjunto. Talvez mancomunados, sabe-se lá, porque há conspirações que se espalham como óleo em estrada molhada.
Não custa reconhecer que Manuela Ferreira Leite se põe a jeito. Já tem idade - e deveria ter experiência política - suficiente para medir cada palavra, avaliar com rigor o impacte de cada frase.
Há quem espere dela, putativa candidata a primeira-ministra, pouco menos do que a exemplaridade. Mas não: descobrimos agora que, humana como todos nós, a senhora também comete gafes. Tivesse ela o coração ao pé da boca e por certo lhe descontaríamos os excessos de linguagem, já que a emoção é mais perdoável do que a razão. Os detractores, porém, suspeitam que o que lhe vem à boca não é o coração, é o subconsciente.
No fundo, lá bem no fundo, acusa-se, é xenófoba por só vislumbrar ucranianos e cabo-verdianos agarrados às betoneiras das obras públicas. No fundo, convive mal com uma Imprensa livre, quando se queixa de que a Comunicação Social não dá eco às suas mensagens. E, cereja em cima do bolo, tem, lá no fundo, impulsos ditatoriais incontroláveis. Pois se no meio de um discurso se interroga sobre a "utilidade" de "haver seis meses sem democracia" (o deficiente português fica por conta da natureza do discurso, feito de improviso)...
Deixar a democracia a marinar durante meio ano, enquanto se fazem umas quantas reformas, para depois voltar a cumprir, como se nada fosse, o que está na Constituição e deveria estar no nosso espírito? Recuso-me a acreditar que Ferreira Leite se reveja neste cenário, que (no fundo) justificou, nos idos de 1926, uma Ditadura Nacional para pôr o país na ordem, mas se lhe agarrou como lapa até 1974. Pode tratar-se de uma ou outra reminiscência do passado, mas mais recente: do período dos governos de Cavaco Silva, de que fez parte.
Nesse tempo - como hoje, aliás - muitos detectavam na maioria absoluta tiques de ditadura.
É o ponto de rebuçado que se atinge quando o diálogo cansa e, para quem não morre de amores por ele, se torna empecilho. É quando se sente que negociar medidas é um incómodo e se passa à imposição. Regra geral em nome do povo que ofereceu os votos.
É desse tempo, em que quem batia o pé era apodado de "força de bloqueio", que no fundo Ferreira Leite tem saudades. Porque se faziam muitas "reformas".
Couberam, apertadinhas, num livro então editado. Mas cada Governo posterior sentiu necessidade de empreender outras.
Paulo Martins
in JN
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