terça-feira, 11 de novembro de 2008

CHEFES ENVIAM MENSAGENS AOS QUARTÉIS...

(MANUEL CARLOS FREIRE)
(DN de 07/11/2008)
O enfraquecimento da posição das chefias militares foi ontem revertido, pelo menos parcialmente, depois de o ministro reconhecer que estava avisado, pela hierarquia castrense, sobre as consequências negativas de o Governo não solucionar com rapidez alguns dos problemas socioprofissionais dos militares
As Forças Armadas viveram ontem um dia agitado, com mensagens das chefias às unidades militares e o ministro da Defesa a reconhecer que a hierarquia castrense já o tinha alertado para os problemas existentes nas fileiras.
Fontes militares disseram ao DN que os chefes de Estado-Maior da Armada (CEMA) e do Exército (CEME) enviaram mensagens internas aos seus subordinados, reafirmando a sua acção de comando em defesa dos "legítimos interesses" dos militares "nos momentos e sedes próprias". No caso da Força Aérea, o envio de um texto similar pelo chefe do ramo (CEMFA) "[era] uma possibilidade".
A posição das chefias foi tomada depois de verem a sua autoridade interna reposta com o assumir, pelo ministro Nuno Severiano Teixeira, de que "as chefias militares têm transmitido ao Governo as preocupações e as expectativas das Forças Armadas".
Recorde-se que a tutela, ao longo da última semana, disse desconhecer a existência de mal-estar ou "descontentamenteo generalizado" nas fileiras, o que fragilizou a posição dos chefes perante os subordinados.
O presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, frisou ao DN que as afirmações de Severiano Teixeira "põem em causa as declarações do secretário de Estado da Defesa", João Mira Gomes, no passado dia 30, horas depois de o general Loureiro dos Santos (reforma) alertar para a tensão existente nas fileiras, deixando uma ameaça implícita de uso da força por algum militar irreflectido devido à não resolução dos problemas.
"As chefias militares não nos transmitem qualquer informação" sobre quaisquer "movimentos de descontentamento a nível de qualquer escalão das forças militares", disse João Mira Gomes, acrescentando: "Não consideramos que haja qualquer tipo de clima de instabilidade nas Forças Armadas."
Uma fonte militar garantiu ontem ao DN que as afirmações de Mira Gomes levaram os chefes militares a alertar o ministro para a necessidade de as corrigir, por não serem verdadeiras e, nessa medida, minarem a sua posição dentro da instituição militar - situação só corrigida ontem, desconhecendo-se se as chefias voltaram a insistir junto da tutela.
No caso de Vasco Lourenço, este capitão de Abril manifestou ainda a sua "satisfação por saber que os chefes de Estado-Maior têm levado os problemas [dos militares] ao ministro da Defesa". "Lamento é que não esteja a dar resultado", acrescentou.
O PCP também tomou ontem posição sobre as declarações do ministro da Defesa. Em comunicado, os comunistas criticaram "a atitude autista e sobranceira do Governo perante o ambiente existente" nas fileiras.
Acresce que "[o ministro], que diz desconhecer o mal-estar nas fileiras, foi o mesmo que, numa recente ida à Comissão Parlamentar de Defesa, levou consigo" o texto feito pelas associações militares a denunciar o incumprimento de várias leis.
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