O presidente da República tentou esclarecer, ontem, o contéudo da inédita nota oficial que fez emitir no domingo, na qual se demarca de qualquer ligação ao famigerado Banco Português de Negócios (BPN). Cavaco Silva diz não poder "pactuar com insinuações e mentiras que possam pôr em causa" o seu "bom nome". "E, quando isso é assim, eu não posso deixar de reagir.
O presidente da República tem de ser uma referência de seriedade para toda a população, e as nossas indicações recolhidas na Presidência da República eram muito, muito claras", acrescentou o chefe de Estado.
O caso é, portanto, bastante sério: na opinião do chefe de Estado, estava (está?) em curso uma espécie de campanha que, através de insinuações malévolas e mentiras várias, o visa atingir e à sua família. Cavaco Silva não explicou de onde vêm umas e outras, mas o facto de, na referida nota, ter, por exemplo, descido ao pormenor de nos dizer quantas contas tem e em que bancos as tem é revelador do grau de transparência que decidiu usar antes que os salpicos do "caso BPN" o possam eventualmente atingir.
A verdade é que, desde que o "caso BPN" estourou, foi dito e redito em todos os órgãos de comunicação social que alguns dos responsáveis do banco estiveram em governos liderados por Cavaco Silva. Isso é um facto indesmentível. Mas daí não pode deduzir-se nada mais.
Acontece que Cavaco nos diz outra coisa: diz-nos que à Presidência chegaram "indicações muito, muito claras" de que, por causa disso, o chefe de Estado estaria a ser envolvido numa espécie de "cabala" que a alguém terá que aproveitar.
Junte-se a delicada situação política do conselheiro de Estado Dias Loureiro e temos o caldo quase entornado. Por isso o presidente decidiu antecipar-se, para se defender. E para mostrar que está atento a todos os movimentos.
O ponto está em saber a quem aproveita a eventual "cabala". Há dias, Marco António Costa, presidente da distrital do PSD do Porto, e Pedro Passos Coelho deram a entender que o "caso BPN" estaria prestes a ser usado, supostamente pelo PS, como uma forma de questionar os anos dourados e a memória do "cavaquismo".
É uma tese. Só não se percebe muito bem o que ganhariam, nesta altura, o PS e mesmo o Governo com a criação de um sério conflito com o presidente da República.
A comissão de inquérito que aí vem - e que os socialistas começaram, convenientemente, por recusar - pode ajudar a lançar alguma luz sobre este caso, que ameaça tornar-se politicamente bicudo.
Uma coisa é certa: se as dúvidas começarem a crescer, Cavaco Silva tem a obrigação de nos dizer quais são as "indicações claras" de que dispõe. Para ficarmos a saber quem é que anda a tentar tramar quem.
Paulo Ferreira
in JN
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