Nos últimos dias, sempre que se fala de Manuel Dias Loureiro, tenho-me lembrado de Walter Marques e António Vitorino. O primeiro deixou um Governo liderado por Mário Soares quando um familiar próximo foi envolvido num escândalo; o segundo, número dois de Guterres, saiu do Governo quando se levantaram dúvidas sobre o pagamento de sisa de uma casa sua. Saindo, um e outro ficaram com o problema para si próprios e resguardaram o Governo que integravam. Nem um nem outro precisavam de o ter feito: Walter Marques não estava acusado nem era suspeito de coisa nenhuma; Vitorino viu, bastante tempo depois, a Justiça dar-lhe razão.
Dias Loureiro não fez, com certeza, nada de ilegal no BPN e nas empresas do banco a que esteve ligado. Ele tem direito a que isto seja dito assim.
Mas está no centro de um furacão de notícias e factos pouco abonatórios: fez uma afirmação sobre um encontro com um vice--governador do Banco de Portugal e foi por ele desmentido; disse que nunca ouvira falar de ilegalidades no BPN e dias depois, na RTP, diz que se encontrou com o vice-governador para falar com ele sobre o que se dizia do banco; disse na RTP que já não tinha nada a ver com o banco desde 2005 e, de seguida, o "Correio da Manhã" descobria-lhe uma ligação até 2007.
Tudo isto são coisas que Dias Loureiro poderá desmentir e virar a seu favor. Possivelmente. Só que Dias Loureiro é conselheiro de Estado por escolha directa do presidente da República e não pode, nem por um segundo, deixar que o presidente apareça nesta história. Durante alguns dias - ignorância nossa - os jornalistas até andaram a interrogar Cavaco sobre se iria demitir Loureiro.
Finalmente, Cavaco disse que tal não lhe competia. E ontem acrescentou que não fazia julgamentos. Obviamente.
Mas, sendo Dias Loureiro um homem de entendimento certamente fácil, que mais é preciso para que perceba que tem de se afastar? Não o fazendo, o normal é que nos interroguemos e o interroguemos sobre porque não se afasta. Saia, em nome da (sua) dignidade.
Pertenço ao grupo numeroso dos que não vislumbram razões para Cavaco Silva ter feito a nota que fez. Ninguém o atacou. A menos que, como tem sido dito, ele conheça uma campanha para o denegrir, o que não é claro aos nossos olhos. Quando se dizia, ainda as coisas corriam bem, que o BPN era o banco do cavaquismo, isso era um elogio à competência de gente que trabalhou de perto com o ex-primeiro-ministro.
Quando, agora, se fala em cavaquistas implicados no escândalo BPN, isso poderá ser pouco simpático para Cavaco Silva mas não autoriza que se pense que ele teve qualquer intervenção e está envolvido no escândalo.
É bom que isto fique claro.
José Leite Pereira
in JN
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