De forma brutal, a crise do capitalismo aí está a abanar o sistema financeiro mundial, pondo a nu toda a fragilidade do sistema social que lhe está inerente, baseado na exploração do homem pelo homem.
Trinta anos bastaram para fazer ruir todo edifício teórico e prático neoliberal. Poucas vezes na história da humanidade uma ideologia terá entrado em falência num espaço temporal tão reduzido e com tanto estrondo – os activos evaporam-se, os bancos e seguradoras não param de falir e a indústria estagna, podendo lançar no desemprego mais de 20 milhões de trabalhadores só no próximo ano.
A crise, que hoje todos reconhecem, já começou a abater-se implacavelmente sobre a classe operária, a mais exposta ao desemprego e aos baixos salários. Mas todas as outras classes trabalhadoras também vão ser duramente atingidas com o fecho de empresas, redução do investimento, baixa salarial, altas taxas de juro e maior dificuldade no acesso ao crédito, desemprego em massa, precariedade. Um enorme vazio se desenha para a vida de milhões de jovens pela ausência de um futuro de trabalho realizador.
Os sinais da crise do sistema capitalista tornaram-se visíveis desde que, no ano passado nos EUA, rebentou a “bolha imobiliária” e a banca deixou de ter liquidez pelo simples facto de as pessoas, endividadas até ao pescoço e acossadas pela subida especulativa das taxas de juro e a degradação das condições de vida, terem deixado de poder pagar as prestações relativas aos empréstimos contraídos.
Mas o regabofe de banqueiros, gestores e outros ladrões continuou como se vivessem no melhor dos mundos. Sabe-se agora que muitos milhões foram directos para as suas fortunas pessoais.
Esta é uma crise de excessos – excesso de produção, excesso de liquidez, de capital fictício, excesso de dívida. Uma crise também provocada pelas guerras de rapina das matérias-primas, em particular o petróleo do Médio Oriente, conduzidas pelos EUA com o apoio da União Europeia. Não lhes importa os milhões de mortos e miseráveis que a sua ganância furiosa vai deixando pelo caminho! Guerras baseadas no embuste e na mentira, como foi o caso do Iraque.
O CAPITALISMO ESTÁ A MAIS
A crise em Portugal é evidente nos 600 mil desempregados (reais), nos dois milhões de pobres, nos cerca de dois terços de famílias com quatrocentos euros mensais, no milhão de trabalhadores precários, nos 400 mil trabalhadores que sobrevivem acumulando dois e três empregos para se alimentarem e poderem pagar as suas hipotecas, nos que têm de emigrar para alimentar os filhos, nas pensões e reformas de miséria. Enquanto as grandes famílias exploradoras, os Belmiro, os Amorim, os Berardo, os Jerónimo Martins, os Teixeira Duarte, a Somague, etc. somam lucros fabulosos com a especulação financeira e o empobrecimento de todos nós, assistimos à cumplicidade do governo com a Galp, ofere¬cendo-lhe lucros especulativos. Ou ainda o escândalo dos ordenados e reformas milionárias dos gestores públicos e privados, de que são exemplo Constâncio, no Banco de Portugal, os ex-ministros e secretários de Estado colocados na Caixa Geral de Depósitos, Teixeira Pinto no BCP, etc.
Nem mesmo a gravidade da crise financeira, que tem engolido como um buraco negro as sucessivas injecções às centenas de milhões nos sistemas económicos e financeiros, atrapalha a devota e cúmplice solidariedade do governo com o grande capital e os especuladores, de que é exemplo a corrida de Sócrates em socorro dos vigaristas do BPN com 4 mil milhões na mão. Em vez de os responsabilizar e de os fazer pagar a crise que provocaram com a sua ganância e trapaças, Sócrates prefere fazer-nos a nós, os de baixo, pagar a crise, socializando os prejuízos mas sem tocar nas fortunas e mantendo os lucros privados.
Este estado de coisas revelou de forma crua aquilo que há muito os comunistas dizem: o sistema capitalista não pode deixar de produzir crises cíclicas, porque o mercado não pode ser outra coisa senão uma selva reprodutora de ricos cada vez mais escandalosamente ricos à custa da suprema miséria da população mundial. É hora de dizer abertamente aos operários e a todos os trabalhadores: o capitalismo está a mais, precisamos de criar uma sociedade avançada em que o trabalho e as necessidades sociais de cada um sejam os únicos factores a considerar na distribuição da riqueza produzida. Basta de crises! Basta de parasitas!
A luta firme e sacrificada tem de ter como objectivo pôr fim ao capitalismo, o que requer a maior unidade possível entre todos os operários e restantes trabalhadores, sendo que cabe aos operários dirigir a luta e não ir a reboque da inconsequência da pequena burguesia. Uma unidade feita por baixo, na e para a acção, e não por cima, entre direcções sindicais, partidárias…
A crise do sistema capitalista é internacional e, por esse motivo, a luta a travar deve ser solidária com a luta dos trabalhadores de todo o mundo.
A alternativa nunca poderá vir da direita (PS/PSD/CDS). Juntos ou separados, são os mais fiéis representantes do grande capital.
Há sectores da esquerda moderada e os eternos reformistas do PCP que ambicionam participar num governo de esquerda em substituição do governo de direita do PS. Sem dúvida que derrubar o governo do PS é um imperativo, porque a sua política tem comprovado ser contra os trabalhadores e pró-imperialista. Estamos de acordo em derrotá-lo como um passo fundamental, para que a luta dos trabalhadores ganhe ânimo e força, mas alertamos para que um rearranjo de forças políticas no poder significa apenas a mudança de moscas e a defesa de soluções que servem os interesses do pequeno e médio capital. O nosso esforço deve levar-nos a lutas de carácter superior visando o fim do capitalismo e nessa perspectiva lutaremos juntos com quem se puser do lado do proletariado.
Nenhuma ilusão numa qualquer regeneração da União Europeia, ou que se possa ultrapassar a crise mantendo-se o capitalismo como sistema económico. Golpear o inimigo e avançar para novas batalhas. Apoiaremos todos os que se situarem nesta perspectiva.
É POSSÍVEL DERROTÁ-LOS
As economias de grande porte: EUA, Alemanha, França, etc., estão em recessão. Vão tentar salvar-se descarregando todo o peso da crise sobre as costas dos trabalhadores, mas nada os salvará se a oposição operária compreender que é possível derrotá-los, tal como a história do movimento operário nos indica em períodos de crise dos exploradores.
É preciso continuar a luta contra o Código Laboral, a precariedade, pelo pleno emprego. Fazer a banca, as seguradoras e os ricos pagar a crise!
Lutar por juros baixos à habitação. Não às hipotecas compulsivas e aos vergonhosos leilões de casas!
Pela semana de horário máximo de 40 horas e pelo pagamento integral das horas extraordinárias!
Pelo salário mínimo de 500 euros. Salário máximo igual ao de primeiro-ministro.
Pelo aumento das pensões e das baixas reformas.
Contra o encerramento das empresas, expropriação dos capitais dos patrões. Nacionalização sem indemnização imediata da Galp.
Pelo derrube do governo do Sócrates!
Portugal fora da Nato! Não à utilização da Base das Lajes pelos EUA como plataforma de agressão aos povos e anulação do acordo!
Abaixo o capital e o imperialismo!
Política Operária
Novembro de 2008
Recebido por email
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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