Elias, o sem-abrigo, personagem principal do cartoon que o JN publica nas páginas de Opinião, dizia ontem, parafraseando Luís Filipe Menezes, que o seu combate (de Menezes) no seio do PSD é "estruturado e a mais longo prazo", coisa que, ainda segundo Elias, "no caso do PSD, pode querer dizer para a semana, amanhã ou daqui a pouco". Eis como o humor ajuda a retratar - e de forma tão certeira - o estado do principal partido da Oposição.
O presidente da Câmara de Gaia usou as palavras citadas por Elias num artigo de opinião publicado no JN, a propósito da escolha de Pedro Santana Lopes para a corrida à Câmara de Lisboa.
O artigo lembra o óbvio: Manuela Ferreira Leite e os seus mais afectos companheiros ergueram várias vezes a cruz em direcção ao "diabo" Santana; fizeram-lhe a vida negra quando foi primeiro-ministro e depois candidato contra Sócrates; a actual líder do PSD assumiu que nunca votaria em Santana numa eleição uninominal; e, consequentemente, lutou ao lado dos que desejaram ardentemente atirar Santana, de uma vez e para todo o sempre, para as calendas… Santana, político de sete vidas, a tudo resistiu.
E obriga agora Manuela Ferreira Leite a engolir um sapo de tamanho gigante.
Por que razão é isto importante? Porque mostra à saciedade como a conversa de Manuela Ferreira Leite sobre o regresso à pureza dos princípios na vida política, sobre a obrigatoriedade de servir a verdade e nada mais do que a verdade aos portugueses, sobre a necessidade de romper com passado recente do partido (isto é: com o modo de fazer política de Menezes e Santana Lopes), não passa disso mesmo: de mera conversa.
Não apenas por isto, mas também por isto, o PSD está como está nas sondagens: a cair a pique, como mostram os resultados do estudo de opinião publicado na edição de ontem do JN. Nada que não fosse possível prever desde que Manuela Ferreira Leite começou a mostrar o jeito pela coisa. Melhor: a falta de jeito para reavivar a alma de um partido que gosta de sentir o cheirinho a Poder, que vive mal sem esse cheirinho.
Com o destino da actual líder do PSD devidamente traçado, resta saber como sairá o partido desta embrulhada. Magno problema: as divisões dos últimos anos acentuaram a criação de grupos e grupinhos, todos na disposição de se aniquilarem uns aos outros ao mínimo sinal de tentativa de controlo do poder interno por uns ou por outros.
Drama máximo: não se vê no horizonte quem possa desatar este nó que estrangula o principal partido da Oposição.
De modo que, venha quem vier, o espectáculo estará seguramente garantido nos próximos tempos…
Paulo Ferreira
in JN
sábado, 20 de dezembro de 2008
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