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As investigações científicas estão agora centradas num medicamento que possa ajudar mulheres com deficiente desejo sexual. A ciência já concluiu que, na mulher, a inibição do acto sexual não é de natureza mecânica - uma erecção com qualidade e duração suficientes - mas psíquica, o que dá maior complexidade à investigação a empreender. De facto, os cientistas acreditam que, para ajudar as mulheres que sofrem de perda de libido, a solução deverá residir em drogas que actuem sobre o cérebro. Um estudo nesse sentido elaborado por uma entidade escocesa (Study Centre on Human Reproductive Sciences, em Edimburgo) identificou os agentes activos que causam o desejo sexual na mulher e começou agora a testá-los cientificamente.
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O mecanismo masculino
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Uma erecção é, em si própria, um acto relativamente simples: para que o pénis adquira rigidez é necessário que o tecido esponjoso no seu interior seja inundado com sangue. Os vasos que conduzem o sangue devem dilatar-se para permitir que o sangue entre para o órgão e depois devem contrair para manter a pressão. A impotência masculina foi durante muito tempo considerada uma consequência de um ou de todos os seguintes factores de ordem psicológica: stress, ansiedade e/ou depressão. O parecer médico de então dizia que não havia muito que se pudesse fazer para remediar a situação. Realmente não havia, mas também havia quem não se conformasse com a ignorância sobre o que se poderia fazer.
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Foi o caso de Geddings Osbon, um americano que usou a sua profissão como inspiração para engendrar uma solução. Osbon trabalhava numa loja de venda e reparação de pneus no estado da Geórgia, nos EUA. Dado que ele próprio sofria de impotência, Osbon desenhou uma pequena bomba de vácuo capaz de criar uma erecção por enchimento do pénis com sangue quando este era aspirado para o pénis pela depressão produzida pela bomba. Em seguida, Osbon aplicava uma pequena cinta de borracha para conter o sangue. Apesar do desconforto que implicava, este método adquiriu popularidade e teve grande expansão. Ainda hoje alguns médicos recomendam este método a homens que padecem de certos tipos específicos de disfunção eréctil.
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O passo seguinte foi dado em 1983, quando um urologista britânico, o Dr Giles Brindley, apresentou num congresso médico em Las Vegas a sua experiência com a fenoxibenzamina injectável e mostrou aos congressistas os bons resultados obtidos nele próprio. Desceu as calças e exibiu uma erecção de notável qualidade e comprovada duração.
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Brindley demonstrou que era possível tratar a disfunção eréctil com medicamentos. Este caminho, uma vez aberto, seria seguido pela moderna farmacologia. Por outro lado, as novas descobertas da ciência mostraram que a disfunção eréctil era causada por um grande número de condições: hipertensão, aterosclerose e alguns tipos de diabetes. A injecção de fenoxibenzamina é relativamente fácil, pode ser autoministrada, mas a erecção instantânea dificilmente encaixa nas práticas normais da maioria dos adultos. Um comprimido seria ideal, se tal solução existisse.
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Em 1985, a farmacêutica Pfizer trabalhava em medicamentos para uma doença cardíaca a que normalmente se chama angina. Os investigadores farmacêuticos Ian Osterloh e Gill Samuels faziam na altura experiências clínicas com o citrato de sildenafil, uma substância que revelara uma boa capacidade para relaxar as paredes dos vasos sanguíneos tornando-os elásticos e flexíveis. A intenção era verificar se a acção da substância anularia, ou mitigaria, a dor de um coração com os vasos tão entupidos que estaria à beira do corte total de irrigação sanguínea. Sem saberem, eles estavam a um milímetro de fazerem uma descoberta histórica: a sua droga aumentou significativamente o fluxo sanguíneo, mas não no coração. O resultado apareceu no… pénis.
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Com este efeito colateral comprovado, os estudos foram dirigidos no sentido de verificar a capacidade da substância para tratar a impotência. Os investigadores sedeados em Bristol, no Reino Unido, fizeram uma quantidade enorme de experiências com cobaias humanas até terem a certeza que os resultados eram positivos e quais as dosagens ideais para cada utilizador. Principalmente, verificaram que as dosagens não provocavam efeitos automáticos por si, mas que ajudavam ao evoluir das acções de estímulo.
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A investigação permitiu desvendar a subtileza do mecanismo da erecção. Quando sexualmente excitado, as células do pénis produzem um mensageiro químico chamado GMP cíclico. O seu efeito é permitir que o sangue entre no tecido esponjoso dos corpos cavernosos do pénis para que este se torne rígido. A segregação de GMP cíclico é limitada e regulada por uma enzima. O Viagra actua sobre esta enzima inibindo-a, potenciando o GMP cíclico, dando-lhe a possibilidade de actuar no momento provável em que o homem está preparado e disponível para ter actividade sexual.
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Um comprimido para a mulher
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Depois de adquirir o conhecimento do mecanismo químico que permite ao Viagra intervir no processo físico das erecções masculinas, era natural que os especialistas se interrogassem sobre qual o efeito que o mesmo medicamento teria na mulher. Os problemas sexuais femininos eram, até então, um campo que tinha recebido menos atenção do que os equivalentes masculinos. Como no homem, apenas se sabia que todas as queixas das mulheres eram, essencialmente, de natureza psicológica.
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A mais recente investigação científica demonstrara que o estímulo (ou excitação) sexual no homem ou na mulher são regidos pelas mesmas substâncias químicas e também que as semelhanças fisiológicas entre o pénis e o clítoris são muito maiores do que considerado até há poucos anos. Contudo, os estudos realizados revelaram de forma clara que, para a esmagadora maioria das mulheres, o Viagra é de pouco préstimo. Apenas as que sofrem de deficiente fluxo sanguíneo na zona pélvica ou de alguma lesão na coluna vertebral podem beneficiar do medicamento.
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Sexo inteligente
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A razão para esta diferença reside no centro que rege o desejo sexual na mulher. Esse centro é na mulher o cérebro e não a zona pélvica. Essa conclusão foi demonstrada pelas investigações realizadas pela Dra Ellen Laan, docente da Universidade de Amesterdão, que durante anos utilizou mulheres como cobaias para compreender a resposta feminina a estímulos sexuais. A Dra Laan mostrava às suas voluntárias dois filmes explícitos. Um era centrado no prazer sexual do homem, o outro no da mulher. As suas cobaias registavam um acréscimo de fluxo sanguíneo e de secreção interna da vagina em ambos os filmes, mas só reconheciam maior excitação sexual no filme centrado no prazer da mulher. A Dra Laan concluiu que, ao invés do homem, os órgãos genitais não são o melhor indicador de estímulo sexual feminino.
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As queixas mais vulgares nas mulheres que procuram ajuda especializada por disfunções sexuais não se situam na área física mas na perda do desejo, ou perda de líbido. O uso de anticonceptivos, ou de antidepressivos podem resolver a situação, assim como engravidar, entrar em menopausa, ou abandonar uma paixão amorosa. Frequentemente, parece não haver qualquer razão. Por isso mesmo, encontrar a cura é muito mais difícil do que ajudar um homem a recuperar funcionalmente o seu precioso órgão.
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Um enfermeiro escocês transformou-se no pioneiro da terapêutica medicamentosa das mulheres. Ian Russel (foto ao lado) especializou-se em ajudar pessoas de ambos os sexos com queixas sexuais. Em 2001 ele começou a usar um novo medicamento – cloridrato de apomorfina – em homens com impotência. A apomorfina, ministrada a homens sob os nomes comerciais de Uprima ou Ixense, é um medicamento preparado para actuar sobre o cérebro. Ele imita um mensageiro químico segregado no cérebro, a dopamina, que se demonstrou que actua sobre o hipotálamo, uma região do encéfalo situada na base de cérebro que controla a actividade simpática, do despertar, do sono, da regulação térmica e da líbido humana. No homem, a apomorfina amplifica o sinal que origina a erecção. Mas os participantes nas experiências de Ian Russel deram conta que tomar o fármaco regular e continuadamente fazia mais do que resolver a impotência; aumentava os níveis do desejo sexual.
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Este resultado inesperado deu a Russel a ideia de que a mesma droga poderia ser útil também às suas pacientes. Ele contactou o professor Jeremy Heaton, da Universidade de Ontário, no Canadá, que tinha criado o fármaco. O professor deu–lhe o apoio de que ele necessitava para planear um pequeno estudo piloto. Russel ministrou apomorfina em doses variáveis a mulheres durante 18 semanas. Todas as seis semanas recolhia as respostas a inquéritos sobre as alterações detectadas pelas participantes nas suas funções sexuais. Oito de cada dez mulheres acusaram um acréscimo assinalável do seu desejo sexual e da sua satisfação sexual global.
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Dado que o estudo tinha âmbito limitado, foi decidido que seria necessário aumentar a escala, mas melhorar os métodos de controlo dos resultados por razões de representatividade e validação científica. Russel está agora a meio de um estudo mais amplo, com registo cego dos resultados estatísticos.
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Entretanto, a investigação em ratos permitiu saber que o papel da dopamina no cérebro vai muito além do hipotálamo. É hoje sabido que desempenha um papel importante no sistema límbico, a parte do cérebro que se julga controlar as emoções. Isto poderá explicar a ligação com o desejo sexual.
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As investigações realizadas em Edimburgo pelo Professor Robert Miller, da Unidade de Ciências Reprodutivas Humanas, vão no mesmo sentido mas situam-se um passo à frente. O Dr Robert Miller isolou uma hormona, antes desconhecida, que funciona como mensageiro para activar certas funções do cérebro relacionadas com a libido. Esta hormona não actua apenas sobre o hipotálamo mas tem uma acção mais abrangente. É mais uma via que se abre na descoberta dos segredos da sexualidade humana. Veja um pequeno vídeo sobre as investigações do professor Miller aqui.
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Os fármacos destinados a resolver deficiências sexuais femininas estão ainda a anos de distância de serem disponibilizados comercialmente. Contudo, à medida que as diferenças – e as semelhanças – entre os dois sexos se esclarecem, a essência das sexualidades masculina e feminina abrem-se à investigação científica. Ao ritmo actual de progresso, podemos prever que dentro de poucos anos teremos um conhecimento consistente sobre o papel do cérebro na sexualidade humana. O seu papel está a revelar-se de tal forma fundamental que confirma a frase que revela o que a Psicologia suspeitava quando nasceu como nova disciplina da ciência: “O cérebro é o mais importante órgão sexual.”
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Este resultado inesperado deu a Russel a ideia de que a mesma droga poderia ser útil também às suas pacientes. Ele contactou o professor Jeremy Heaton, da Universidade de Ontário, no Canadá, que tinha criado o fármaco. O professor deu–lhe o apoio de que ele necessitava para planear um pequeno estudo piloto. Russel ministrou apomorfina em doses variáveis a mulheres durante 18 semanas. Todas as seis semanas recolhia as respostas a inquéritos sobre as alterações detectadas pelas participantes nas suas funções sexuais. Oito de cada dez mulheres acusaram um acréscimo assinalável do seu desejo sexual e da sua satisfação sexual global.
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Dado que o estudo tinha âmbito limitado, foi decidido que seria necessário aumentar a escala, mas melhorar os métodos de controlo dos resultados por razões de representatividade e validação científica. Russel está agora a meio de um estudo mais amplo, com registo cego dos resultados estatísticos.
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Entretanto, a investigação em ratos permitiu saber que o papel da dopamina no cérebro vai muito além do hipotálamo. É hoje sabido que desempenha um papel importante no sistema límbico, a parte do cérebro que se julga controlar as emoções. Isto poderá explicar a ligação com o desejo sexual.
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As investigações realizadas em Edimburgo pelo Professor Robert Miller, da Unidade de Ciências Reprodutivas Humanas, vão no mesmo sentido mas situam-se um passo à frente. O Dr Robert Miller isolou uma hormona, antes desconhecida, que funciona como mensageiro para activar certas funções do cérebro relacionadas com a libido. Esta hormona não actua apenas sobre o hipotálamo mas tem uma acção mais abrangente. É mais uma via que se abre na descoberta dos segredos da sexualidade humana. Veja um pequeno vídeo sobre as investigações do professor Miller aqui.
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Os fármacos destinados a resolver deficiências sexuais femininas estão ainda a anos de distância de serem disponibilizados comercialmente. Contudo, à medida que as diferenças – e as semelhanças – entre os dois sexos se esclarecem, a essência das sexualidades masculina e feminina abrem-se à investigação científica. Ao ritmo actual de progresso, podemos prever que dentro de poucos anos teremos um conhecimento consistente sobre o papel do cérebro na sexualidade humana. O seu papel está a revelar-se de tal forma fundamental que confirma a frase que revela o que a Psicologia suspeitava quando nasceu como nova disciplina da ciência: “O cérebro é o mais importante órgão sexual.”
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