Em seis semanas sucederam-se a um ritmo vertiginoso as notícias sobre o “caso BPN”. Por mim confesso que a realidade tem, de longe, superado tudo o que eu pudesse imaginar. Dava para argumento de uma série. Não há por aí produtoras interessadas?
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Temos de tudo: um banco com órgãos sociais saídos do bloco central do poder, com predominância para o PSD. Rotatividade anormal e excessiva dos mesmos. Accionistas desconhecidos. Auditoras – que mudam quase de dois em dois anos - , que referenciam negócios cujo contributo para os resultados do banco era difícil de detectar e que vão de oficinas de reparação automóvel, passando pela saúde, seguros, agro-alimentar e até fundos de arte. Auditoras que alertam para a excessiva concentração de créditos concedidos a empresas imobiliárias e com projectos em construção, algumas ligadas a accionistas do grupo. O Banco de Portugal (BdP) tem seis processos abertos e admite agora que as irregularidades remontam ao ano 2002. A Procuradoria-Geral da República está a investigar o banco.
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Um banco que apresenta, a 30 de Outubro de 2008, 700 milhões de euros de prejuízos. Mas que, em 2007, reportou resultados positivos de 77 milhões de euros e, em 2006, de 86 milhões de euros. Um banco que manteve anos a fio taxas de remuneração de depósitos bastante acima da concorrência. Que guarda várias obras de arte no valor de milhões e milhões de euros nos seus cofres-fortes. Mas que motivou ao longo dos anos sucessivos avisos e denúncias sobre a sua eventual associação ao branqueamento de capitais.
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Um banco aparentemente não fiscalizado em condições por quem de direito: o BdP, presidido pelo “funcionário mais bem pago do Estado Português” (Victor Constâncio ganha, anualmente, 281.804,83 euros). Um banco onde administradores executivos e não-executivos, bem como membros dos órgãos sociais, nada viam, nada ouviam, nada liam, logo nada sabiam. Uns incompetentes estranhamente assumidos na primeira pessoa. Apetece perguntar: eram pagos pelos accionistas, a peso de ouro, para serem assim?
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“O Caso BPN” que atinge um ex-ministro e actual conselheiro de Estado, que afirma que quando saiu da política não tinha dinheiro nenhum – o que é manifestamente um exagero. E que nos revelou a todos o segredo da sua fortuna: “Geri o dinheiro com parcimónia, com sensatez.” Deve ter sido por isso que em 1991 comprou e remodelou uma vivenda, no Estoril, por 150 mil contos – dinheiro proveniente de uma herança e venda de propriedades em Coimbra. Antes havia a casa de Sete Rios, comprada por 9600 contos. Depois a nova casa na Quinta Patiño, no Estoril, uma das zonas mais privilegiadas e caras do país (diz-se que cada metro quadrado de terreno custa 5 mil euros). Previdente, quando o BPN explodiu, Dias Loureiro já tinha saído e levado consigo todo o dinheiro que havia investido no banco. O “caso BPN” onde o Presidente da República entende elaborar um comunicado por não poder “tolerar a continuação de mentiras e insinuações visando pôr em causa o [seu] bom-nome”.
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O “caso BPN” onde se fala de um bando de Cabo Verde. De 130 milhões de euros correspondentes à venda de uma empresa no Brasil. De ligações que chegariam a deputados do PSD-Madeira. De membros da comissão política nacional do PSD que se demitiram por não quererem que avançasse a fiscalização da supervisão bancária. De contributos para campanhas eleitorais. De uma ida às corridas a Inglaterra com escala a leste para recolher prostitutas, tudo pago pelo BPN. De reuniões em casas de alterne. De compras de empresas de valor duvidoso em Porto Rico. De Abdul Rahman El-Assir, referenciado como traficante de armas, acusado de ter ligações ao narcotráfico mundial. E de tudo o que mais adiante se verá. Todos os dados foram retirados de jornais, revistas, rádios e televisões de Portugal.
António Vilarigues, Público
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