“Um presidente negro na terra do Ku Klux Klan. Na terra ensopada de sangue pela guerra que libertou os escravos”.
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Estou a terminar o meu último romance. Baseia-se em factos reais e cruza a vida de dois homens que nos inícios do século XX tiveram um papel decisivo para a construção da ideia dos Estados Unidos que hoje conhecemos.
Nasceram os dois numa pequena aldeia da Sicília chamada Bisacquino. Um deles foi Vito Cascio-Ferro, um homem poderoso da Cosa Nostra e um dos grandes organizadores da máfia nova-iorquina. O outro, ainda menino, emigrou para a Costa Oeste e ficou célebre com o nome de Frank Capra. Hoje faz parte da galeria de grandes criadores que revolucionaram o cinema na primeira metade do século passado. Fez a transposição do cinema mudo para o sonoro, ganhou vários Óscares, deixou-nos filmes imortais.
São duas figuras que, do ponto de vista simbólico, representam o que de melhor e o que de pior a América nos pode dar. Dois limites que integram todos os actos, acontecimentos, misérias e riquezas daquele país fabuloso, contraditório e egoísta, que nos fascina com o olhar da serpente sobre as suas vítimas.
Não fui capaz de deixar de recordar os meus personagens quando, na semana passada, na noite da vitória, perante uma multidão emocionada, a voz dos altifalantes anunciou a chegada do novo presidente dos Estados Unidos.
São duas figuras que, do ponto de vista simbólico, representam o que de melhor e o que de pior a América nos pode dar. Dois limites que integram todos os actos, acontecimentos, misérias e riquezas daquele país fabuloso, contraditório e egoísta, que nos fascina com o olhar da serpente sobre as suas vítimas.
Não fui capaz de deixar de recordar os meus personagens quando, na semana passada, na noite da vitória, perante uma multidão emocionada, a voz dos altifalantes anunciou a chegada do novo presidente dos Estados Unidos.
E ao palco vazio subiram quatro negros de mão dada.
Um homem, uma mulher e duas crianças. Um presidente negro na terra do Ku Klux Klan. Na terra ensopada de sangue pela guerra que libertou os escravos. O mesmo chão que assassinou Martin Luther King. De onde se conquistou a lua. A terra dos sonhos e dos pesadelos. Do maravilhoso e de Guantanamo. Podia ser um dos personagens ou uma cena de Frank Capra. Podia ser.
Ao vê-los assim, os quatro tão expostos à multidão, não consegui deixar de recordar outros presidentes americanos: Lincoln, McKinley, Kennedy, assassinados pela besta que é aquela mesma terra luminosa e tão cheia de impossíveis tornados realidade.
Tenho poucas dúvidas.
Ao vê-los assim, os quatro tão expostos à multidão, não consegui deixar de recordar outros presidentes americanos: Lincoln, McKinley, Kennedy, assassinados pela besta que é aquela mesma terra luminosa e tão cheia de impossíveis tornados realidade.
Tenho poucas dúvidas.
A mesma pátria que teve a grandeza de entregar a Obama a cadeira de presidente tem no ventre o mais tenebroso dos horrores e jamais entrou na Casa Branca um homem que vá viver tão perto da morte.
Deus queira que nenhum dos monstros herdeiros de D. Vito Cascio-Ferro ponha termo ao belo sonho construído por Frank Capra.
Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores
in CM
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