quarta-feira, 30 de abril de 2008

A GUERRA DO VIETNAME TERMINOU HÁ 33 ANOS

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre



DUAS FOTOGRAFIAS QUE CHOCARAM O MUNDO


A bala disparada à queima-roupa perfurou o cérebro de um prisioneiro vietcong e a foto capturou o momento exacto da execução.
Há duas personagens desta tragédia: Nguyen Ngoc Loam, coronel, nomeado chefe da Polícia Nacional da República do Vietname, e um oficial vietcong capturado, o capitão Nguyen Van Lém, o mesmo nome próprio que o seu assassino.
Nesta foto já não existe vida, nem no carrasco nem na sua vítima: a câmara de Eddie Adams transforma-os em monumentos que recordam à Humanidade a brutalidade selvagem de uma guerra sem honra.


MENINA QUEIMADA POR NAPALM, FOGE COM OUTRAS CRIANÇAS DOS BOMBARDEAMENTOS

A Guerra do Vietname foi um conflito armado que durou entre 1959 até 30 de abril de 1975.

O envolvimento dos EUA no conflito teve como pretexto um ataque norte-vietnamita aos seus navios USS Maddox e USS C.Turney Joy enquanto patrulhavam o Golfo de Tonquim (o chamado incidente do Golfo de Tonkin), em julho de 1964.

As hostilidades originaram-se com a intromissão dos EUA na política interna do Vietnam. Conforme definido pela Convenção de Genebra, os vietnamitas teriam direito a eleições livres para escolher seus governantes. Mas diplomatas estado-unidenses sabiam muito bem que, se fossem autorizados plebiscitos no país, os comunistas venceriam com mais de 90% dos votos, graças à enorme popularidade de seu líder, Ho Chi Minh, patriota e herói da resistência vietnamita contra a ocupação japonesa e a luta pela independência da França (também conhecida como a Guerra da Indochina). O maior temor dos Estados Unidos não era apenas a possibilidade de o Vietnã cair nas mãos dos comunistas, e sim o chamado "efeito dominó", isto é, que outros países vizinhos tentassem seguir o exemplo da insubordinação vietnamita.

Vietname do Sul

No início, os EUA apoiavam o regime ditatorial do Vietname do Sul com dinheiro, armas, carros de combate, assessores militares e, a partir de 1962, tropas. Combatiam de um lado uma coalizão de forças incluindo os Estados Unidos da América, a República do Vietnã (Vietnãamedo Sul), a Austrália, a Nova Zelândia, as Filipinas e a Coreia do Sul, e do outro lado a República democrática do Vietnã, a Frente de liberação nacional (FLN, Vietcong, ex-Vietmin) e a guerrilha comunista sul-vietnamita. Cerca de 540 000 estado-unidenses foram enviados para o Vietnam entre 1965 e 1973 para ajudar a preservar a independência do Vietname do Sul pró-capitalista em relação ao norte comunista. Os helicópteros indispensáveis à campanha dos aliados e a artilharia pouco ou nada podiam fazer, na maioria das vezes os soldados estado-unidenses ficavam vulneráveis neste território pouco conhecido, ao contrário dos Vietcongs que o conheciam como a palma da mão e possuíam uma grande rede de abrigos subterrâneos e túneis, realizando armadilhas e emboscadas. A URSS e a China forneceram ajuda material ao Vietname do Norte e ao FLN, mas não tiveram participação militar activa no conflito.

A Ditadura de Diem

Entrementes no Sul, assumia a administração em nome do imperador, Ngo Dinh Diem, um líder católico, que em pouco tempo tornou-se o ditador do Vietname do Sul. Ao invés de realizar as eleições em 1956, como previa o acordo de Genebra, Diem proclamou a independência do Sul e cancelou a votação. Os americanos apoiaram Diem porque sabiam que as eleições seriam vencidas pelos nacionalistas e pelos comunistas de Ho Chi Minh. Em 1954, Dwight Eisenhower, então Presidente dos Estados Unidos, explicou a posição americana na região pela defesa da Teoria de Dominó: "Se vocês puserem uma série de peças de dominó em fila e empurrarem a primeira, logo acabará caindo até a última... se permitirmos que os comunistas conquistem o ameVietnã corre-se o risco de se provocar uma reação em cadeia e todo os estados da Ásia Oriental tornar-se-ão comunistas um após o outro."

A partir de então Diem conquistou a colaboração aberta dos EUA, primeiro em armas e dinheiro e depois em instrutores militares. Diem reprimiu as seitas sul-vietnamitas, indispôs-se com os budistas e perseguiu violentamente os nacionalistas e comunistas, além de conviver, como bom déspota oriental, com uma administração extremamente nepótica e corrupta. Em 1956, para solidificar ainda mais o projeto de contenção ao comunismo, especialmente contra a China, o secretário John Foster Dulles criou, em Manila, a OTASE (Organização do Tratado do Sudeste Asiático), para servir de suporte ao Vietname do Sul.

Segunda Guerra da Indochina

Essa guerra era uma parte do conflito regional envolvendo os países vizinhos do Cambodja e do Laos, conhecido como Segunda Guerra da Indochina. No Vietname, esta guerra é chamada de Guerra da América (Vietnamita: Chiến Tranh Chống Mỹ Cứu Nước, literalmente Guerra contra os americanos e para salvar a Nação). Para tal, os vietnamitas tiveram de suportar baixas e bombardeios terríveis. O grande número de baixas americanas (57939 soldados perderam suas vidas entre 1962 e a retirada aliada, em 1975) tornou o conflito extremamente impopular. Muitos dos que passaram a protestar contra essa guerra eram pessoas que a apoiaram entusiasticamente no início.

Este conflito se inscreve no contexto da Guerra Fria, conflito entre as potências capitalistas e o bloco comunista.

A reação contra a guerra e a contra-cultura

A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos bombardeios aéreos - inclusive com bombas napalm - fez com que surgisse na américa um forte movimento contra a guerra. Começou num bairro de São Francisco, na Califórnia, o Haight - Aschbury, com "as crianças das flores" (flower children), quando gente jovem lançou o movimento "Paz e Amor" (Peace and Love), rejeitando o projecto da Grande Sociedade do Presidente Lyndon Johnson.

A partir de então tomou forma a movimento da contra-cultura - chamado de movimento hippie - que teve enorme influência nos costumes da geração dos anos 60, irradiando-se pelo mundo todo. Se a sociedade americana era capaz de cometer um crime daquele vulto, atacando uma pobre sociedade camponesa no sudeste asiático, ela deveria ser rejeitada. Se o americano médio cortava o cabelo rente como um militar, a contracultura estimulou o cabelo despenteado, comprido, e de cara com barba. Se o americano médio tomava banho, opunham-se a ele andando sujos. Se aqueles andavam de terno e gravata, aboliram-na pelo brim e pela sandália. Repudiaram também a sociedade urbana e industrial, propondo o comunitarismo rural e a actividade artesanal, vivendo da fabricação de pequenas peças, de anéis e colares. Se o tabaco e o álcool era a marca registada da sociedade tradicional, aderiram à maconha e aos ácidos e as anfetaminas. Foram os grandes responsáveis pela prática do amor livre e pela abolição do casamento convencional e pela cultura do rock. Seu apogeu deu-se com o festival de Woodstock realizado em Nova York, em 1969.

A revolta instalou-se nos Campus Universitários, particularmente em Berkeley e em Kent onde vários jovens morrem num conflito com a Guarda Nacional. Praticamente toda a grande imprensa também se opôs ao envolvimento. Surgiu entre os negros os Panteras Negras (The Black Panthers) um expressivo grupo revolucionário que pregava a guerra contra o mundo branco americano da mesma forma que os vietcongs. Passeatas e manifestações ocorriam em toda a América. Milhares de jovens negaram-se, pela primeira vez na história do país, a servir no exército, desertando ou fugindo para o exterior.

Esse clima espalhou-se para outros continentes e, em 1968, em março, eclodiu a grande rebelião estudantil no Brasil contra o regime militar, implantado em 1964, e em maio, na França, a revolta universitária contra o governo de Charles de Gaulle. Outras ainda ocorreram no México e na Alemanha e Itália. O filósofo marxista Herbert Marcuse afirmou que a revolução seria feita doravante pelos estudantes e outros grupos não assimilados pela sociedade de consumo conservadora.

A ofensiva do Tet e o desengajamento

Em 30 de janeiro de 1968, os vietcongs fizeram uma surpreendente ofensiva - a Ofensiva do Tet (o ano novo lunar chinês usado no Vietnã) - sobre 36 cidades sul-vietnamitas, ocupando inclusive a embaixada americana em Saigon. Morreram 33 mil vietcongs nessa operação arriscada, pois expôs quase todos os quadros revolucionários, mas foi uma tremenda vitória política. O General Wetsmoreland, comandante-chefe das forças dos Estados Unidos no Vietnã, que havia dito que "já podia ver a luz no fim do túnel", predizendo uma vitória americana para breve, foi destituído, e o presidente Johnson foi obrigado a aceitar negociações, a serem realizadas em Paris, além de anunciar sua desistência de tentar a reeleição.

Para a opinião pública americana tratava-se agora de sair daquela guerra de qualquer maneira. O novo presidente eleito, Richard Nixon, assumiu o compromisso de "trazer nossos rapazes de volta", fazendo com que, lentamente, as tropas americanas se desengajassem do conflito. O problema passou a ser de que maneira os Estados Unidos poderiam obter uma "retirada honrosa" e manter ainda o seu aliado, o governo sul-vietnamita.

Desde 1963, quando os militares sul-vietnamitas, apoiados pelos americanos, derrubaram e mataram o ditador Diem (àquela altura extremamente impopular), os sul-vietnamitas não conseguiram mais preencher o vácuo de sua liderança. Uma série de outros militares assumiram a chefia do governo transitoriamente enquanto os combates mais e mais eram tarefa dos americanos. Nixon passou a reverter isso, fazendo com que os sul-vietnamitas voltassem a ser encarregados das operações. Chamou-se isso de "vietnamização" da guerra. Imaginou que abastecendo-os o suficiente de dinheiro e armas eles poderiam lutar sozinhos contra o vietcong. Transformou o presidente Van Thieu num simples títere desse projeto. Enquanto isso, as negociações em Paris marcavam passo. Em 1970, Nixon ordenou o ataque a célebre Trilha Ho Chi Minh que passava pelo Laos e Camboja e que servia como estrada de abastecimento do vietcong. Estimulou também um golpe militar contra o neutralista príncipe Norodom Sihanouk do Camboja, o que provocou uma guerra civil naquele país entre os militares direitistas e os guerrilheiros do Khmer Vermelho liderados por Pol Pot.

Vítimas

O total de vítimas da Guerra do Vietnã entre os anos de 1964 até 1975 é impreciso, oscilando entre 1 milhão e meio a dois milhões de vietnamitas mortos, entre civis e militares. Parte considerável da população economicamente ativa do país morreu durante o conflito. Este fato provocou uma grave crise econômica nos anos seguintes ao término do conflito. Morreram aproximadamente 54.000 soldados estado-unidenses até a retirada dos Estados Unidos do conflito em 1973.

Embargo comercial

Quando os vietnamitas começaram a construir o socialismo no país unificado, primeiramente eles optaram pelo velho modelo soviético que, por não levar em conta as peculiaridades e as realidades nacionais, fracassou. O país então entrou em uma crise econômica que agravou ainda mais sua situação social. Em 1987 o Vietnã enfrentava uma inflação de quase 700% ao ano, uma grande carência no abastecimento de mercadorias e artigos de primeira necessidade como o arroz, por exemplo, estavam sendo importados. Além disso, o país só mantinha relações comerciais e diplomáticas com países socialistas, pois sofria o embargo de países capitalistas, sob imposição dos EUA.

Forças Envolvidas

Estados Unidos: 2.300.000 homens serviram no Vietnã de 1961 a 1974, com 46.370 mortos e 300.000 feridos.

Vietname do Sul: 1.048.000 homens (Exército regular e Forças Populares), com 184.000 mortos.

Vietname do Norte e Vietcong: cerca de 2.000.000 homens, com 900.000 mortos no total.

Referências bibliográficas

Adolpho J. de Paula Couto, A Face Oculta da Estrela, Gente das Letras, Porto Alegre

CANTU, Cesare. História universal. São Paulo: Ed. das Américas, 1967-1968.

CHINA, A História da China. publicado Ed. China News Service, 1989

AQUINO, Rubim Santos Leão de, et al. História das sociedades: das sociedades modernas as sociedades atuais. 18.ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, (1989?).

POMER, Leon; PINSKY, Jaime. O surgimento das nações. 3.ed. Campinas: UNICAMP, 1987.

GRIMBERG, Carl; SVANSTROM, Ragnar. História universal. Lisboa: Europa-América, 1940.



1 comentário:

zigoto disse...

Esta guerra foi uma tragédia e serviu unicamente para demonstrar que os Estados Unidos não eram (nem são) invencíveis.
Contudo, nem a humilhante debandada americana de Saigão serviu para Washington perder a arrogância.
Resta saber quando, e como, os americanos abandonam o Iraque e o Afeganistão...