Manifestação anarquista desfila sem incidentes pela Baixa
Barulhentos mas pacíficos, apesar de alguns parecerem vestidos para um motim, cerca de duzentos manifestantes marcharam ontem entre a Praça da Figueira e o Terreiro do Paço, em Lisboa, em protesto contra o autoritarismo e a repressão policial.
Num dia em que a Baixa foi dominada pelo desfile do 25 de Abril, a manifestação convocada através do blogue «Contra o Capital» decorreu sob vigilância policial discreta, com cerca de dez agentes, alguns dos quais vestidos à civil, que tiraram fotografias aos manifestantes.
A concentração saiu da Praça da Figueira, passou pelo Largo de São Domingos e fez-se notar ao entrar no Rossio, com os tambores, buzinas e coros a inquietarem os membros da Associação 25 de Abril, que fazia naquela altura as suas intervenções num palco montado frente ao Teatro Nacional Dona Maria II.
«Vieram provocar uma manifestação organizada e a polícia sem fazer nada. Eu já fiz um 25 de Abril, agora tenho que fazer outro?», queixou-se um dos elementos da associação, que preferiu não se identificar.
«O Povo unido não precisa de partido» foi uma das palavras de ordem dos manifestantes, a maioria vestidos de negro, botas, com lenços e máscaras a tapar a cara, com afinidades anarquistas, como demonstravam as bandeiras negras, algumas com caveiras e ossos, e o «A» em grafia anarquista que decorava mochilas, camisolas e uma das faixas na frente da manifestação.
A passagem pelo Rossio fez-se sem novidade e os manifestantes anti-repressão saíam da praça rumo à rua Augusta quando soava «Grândola, Vila Morena» no sistema de som da Associação 25 de Abril.
Mas a música da manifestação era outra, pontuada por tambores, megafones e até sirenes policiais e várias palavras de ordem, algumas mais incendiárias - «Hoje és polícia, antes eras homem» - na passagem pela Rua Augusta, interrompida a espaços para evitar as esplanadas e o «homem-estátua» que actuava no meio da via, e que se desviou diligentemente, recebendo aplausos.
Recados à extrema-direita - «Nazis, fascistas, chegou a vossa hora! Os imigrantes ficam e vocês vão embora!» - e contra o capitalismo, o Estado pontuaram também no percurso dos manifestantes.
Entre os manifestantes, ninguém se manifestou disponível para declarações e até os leitores de dois «comunicados» - um no início, outro no fim - foram escudados por vários manifestantes para evitar que fossem abordados, gravados ou fotografados.
«Chibos infames» e «Sangue nas ruas» foram algumas das expressões que se perceberam por entre o discurso abafado, que prometia: «continuamos e continuaremos nas ruas».
No corpo da manifestação, algumas pessoas distribuíam panfletos, um da federação anarco-sindicalista Associação Internacional dos Trabalhadores, lamentando a «repressão sobre as lutas sociais», e outro com «dicas para lidar com a repressão policial», cuja regra número um é «utilizar sempre o bom senso e não entrar em pânico».
A manifestação de hoje decorreu precisamente um ano depois de conflitos entre polícia e manifestantes junto à antiga sede da PIDE, no Chiado.
Lusa/SOL
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