sábado, 26 de abril de 2008

OS ANARQUISTAS NO 25 DE ABRIL

Manifestação anarquista desfila sem incidentes pela Baixa

Barulhentos mas pacíficos, apesar de alguns parecerem vestidos para um motim, cerca de duzentos manifestantes marcharam ontem entre a Praça da Figueira e o Terreiro do Paço, em Lisboa, em protesto contra o autoritarismo e a repressão policial.

Num dia em que a Baixa foi dominada pelo desfile do 25 de Abril, a manifestação convocada através do blogue «Contra o Capital» decorreu sob vigilância policial discreta, com cerca de dez agentes, alguns dos quais vestidos à civil, que tiraram fotografias aos manifestantes.

A concentração saiu da Praça da Figueira, passou pelo Largo de São Domingos e fez-se notar ao entrar no Rossio, com os tambores, buzinas e coros a inquietarem os membros da Associação 25 de Abril, que fazia naquela altura as suas intervenções num palco montado frente ao Teatro Nacional Dona Maria II.

«Vieram provocar uma manifestação organizada e a polícia sem fazer nada. Eu já fiz um 25 de Abril, agora tenho que fazer outro?», queixou-se um dos elementos da associação, que preferiu não se identificar.

«O Povo unido não precisa de partido» foi uma das palavras de ordem dos manifestantes, a maioria vestidos de negro, botas, com lenços e máscaras a tapar a cara, com afinidades anarquistas, como demonstravam as bandeiras negras, algumas com caveiras e ossos, e o «A» em grafia anarquista que decorava mochilas, camisolas e uma das faixas na frente da manifestação.

A passagem pelo Rossio fez-se sem novidade e os manifestantes anti-repressão saíam da praça rumo à rua Augusta quando soava «Grândola, Vila Morena» no sistema de som da Associação 25 de Abril.

Mas a música da manifestação era outra, pontuada por tambores, megafones e até sirenes policiais e várias palavras de ordem, algumas mais incendiárias - «Hoje és polícia, antes eras homem» - na passagem pela Rua Augusta, interrompida a espaços para evitar as esplanadas e o «homem-estátua» que actuava no meio da via, e que se desviou diligentemente, recebendo aplausos.

Recados à extrema-direita - «Nazis, fascistas, chegou a vossa hora! Os imigrantes ficam e vocês vão embora!» - e contra o capitalismo, o Estado pontuaram também no percurso dos manifestantes.

Entre os manifestantes, ninguém se manifestou disponível para declarações e até os leitores de dois «comunicados» - um no início, outro no fim - foram escudados por vários manifestantes para evitar que fossem abordados, gravados ou fotografados.

«Chibos infames» e «Sangue nas ruas» foram algumas das expressões que se perceberam por entre o discurso abafado, que prometia: «continuamos e continuaremos nas ruas».

No corpo da manifestação, algumas pessoas distribuíam panfletos, um da federação anarco-sindicalista Associação Internacional dos Trabalhadores, lamentando a «repressão sobre as lutas sociais», e outro com «dicas para lidar com a repressão policial», cuja regra número um é «utilizar sempre o bom senso e não entrar em pânico».

A manifestação de hoje decorreu precisamente um ano depois de conflitos entre polícia e manifestantes junto à antiga sede da PIDE, no Chiado.

Lusa/SOL


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