segunda-feira, 28 de abril de 2008

SE MAIS RAZÃO NÃO HOUVERA

ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL

Pessoa colectiva de utilidade pública (Decl. n.º 104/2002, DR - II Série, n.º 91 de 18 de Abril) Membro honorário da Ordem da Liberdade

MENSAGEM

Há 34 anos os Portugueses passaram a olhar para os seus militares com orgulho e gratidão.

Não era caso para menos: foram eles que, numa manhã radiosa, os fizeram acordar em Liberdade, livres das grilhetas da ditadura, esperançados num futuro de Paz e Desenvolvimento. Tudo de um dia para o outro e sem que nada o fizesse prever. Por isso, a surpresa, primeiro, e a explosão de alegria e sonhos, depois.

Passados 34 anos é com perplexidade que os Portugueses assistem às múltiplas desconsiderações feitas pelo poder a esses mesmos militares, de formas que nos abstemos de adjectivar, apesar de muito os utilizarem, aproveitando a sua permanente disponibilidade e competência em acções da sua política externa. Ao ponto de os olharem como cidadãos de segunda, a quem, contrariamente ao estabelecido na Constituição, querem silenciar para todo o sempre. Mesmo que no fim da vida, quando deixaram o serviço activo.

Enquanto isso, esses mesmos militares, porque civilistas, democratas e patriotas, procuram continuar a contribuir para a consolidação dos ideais de Abril, que há 34 anos os levaram a tudo arriscar, ao serviço dos seus compatriotas, mas assistem, quantas vezes com revolta, à perda constante de muitos resultados positivos alcançados, assistem à perda de liberdades, valores, princípios, ideais e ao regresso de velhos usos das ditaduras, como a delação e a imposição do medo.

Continuamos, como há 34 anos, a considerar que a democracia é o menos mau de todos os sistemas políticos. Mas, como menos mau, tem de ser encarado como sistema do percurso para uma vida melhor, não o definitivo, e tem se ser permanentemente aperfeiçoado. Em democracia, existem deveres mas existem também direitos, individuais e colectivos. Por nós militares de Abril, não abdicamos duns nem de outros. A nossa postura cívica assim no-lo impõe. Por mais que nos queiram calar, não desistiremos. Não aceitamos que nos tirem a nossa dignidade, que uma vez assumida, nos levou a derrubar a ditadura, a terminar a guerra e a cumprir todas as promessas, então feitas.

E, como a Democracia é, antes de mais, a defesa dos valores consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, nas Constituições livremente redigidas, no igual respeito por todos e cada um, no acatamento da vontade colectiva, não desistimos de pugnar por defender esses valores.

De defender uma sociedade mais solidária, onde os rendimentos sejam justamente distribuídos por quem os produz. Não podemos aceitar uma sociedade onde o trabalho recebe menos de 40% desse rendimento e o capital mais de 60%. Com a agravante de, mesmo no mundo do capital, a mera especulação se sobrepor ao simples investimento. Continuamos a pugnar por uma sociedade onde o poder económico se não sobreponha ao poder político, com práticas sempre farisaicas, onde rapidamente esquece o liberalismo e a desejada ausência de Estado, quando se confronta com problemas graves, como vem acontecendo mais vezes do que desejavam, e impõe rapidamente a intervenção desse mesmo Estado, para lhe resolver os problemas que ele próprio criou. Sempre à custa dos cidadãos que tudo são obrigados a suportar, sempre em nome de ditos interesses superiores.

Uma sociedade onde o fosso entre os mais ricos e os mais pobres não aumente despudoradamente, com o poder das classes médias a diminuir drasticamente, com evidente perigo para a estabilidade saudável e a respectiva paz social.

Uma sociedade onde os partidos políticos voltem a ser instrumentos fundamentais do sistema democrático, acabem com a cobertura à corrupção, ao compadrio, ao tráfico de influências, enfim, sirvam em vez de servir-se.

Gostaríamos de emitir uma mensagem optimista. É difícil, nos tempos que correm, onde são várias as vozes que se levantam a prever convulsões e limitações das liberdades.

Por nós, mulheres e homens, civis e militares da Associação 25 de Abril, estamos confiantes na capacidade dos Portugueses, na defesa de um País de Abril, democrático, mais livre, mais justo e em paz.

Por isso lutamos! Convictos que muito da actual conjuntura passará e os cravos voltarão a florir!

Estamos em tempo de alertar a malta, de avisar toda a gente, de não poder ignorar, de não poder calar!

Tudo faremos para evitar que se regresse ao passado, um passado onde se volte a justificar outro 25 de Abril.

Não queremos voltar a ir para longe, porque não queremos ter de regressar. Queremos continuar aqui, na luta pelos nossos ideais.

Assim o queiramos todos, porque se todos nos empenharmos nessa luta, Abril será o futuro.

Viva o 25 de Abril!

Viva Portugal!

Abril de 2008


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