Nos idos da juventude apresentei--me a um concurso para "assistente de programas literários de 2.ª classe" da Emissora Nacional (EN). Acho que a expressão "2.ª classe" se referia a "assistente" e não a "programas literários", mas nunca o pude confirmar pois, tendo sido aprovado, não apareci na tomada de posse. Uma das provas do concurso consistia em resumir um discurso de Salazar.
Na altura, não era coisa surpreendente. Além disso, Salazar (supondo que era ele quem escrevia os seus discursos), sem ser um mestre da língua como Manuel de Andrade, exprimia-se em honesto português, sem os "hádem" de políticos e juristas de hoje.
Surpreendente (mas que sei eu?) é, meio século depois, o IEFP (organismo público como era então a EN) impor um discurso de Sócrates como material de estudo para um concurso para técnico principal.
Sócrates é naturalmente alheio ao caso, como Salazar o foi decerto quando do meu concurso para a EN.
No tempo do fascismo, o culto da personalidade fazia parte das regras do jogo. Hoje faz parte das regras de outro jogo: o dos "boys" do PS ansiosos por "mostrar serviço" ao líder.
Manuel António Pina
in JN
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
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