quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Venha de lá esse Mundial...
As autoridades futebolísticas estão a montar, devagarinho, o cenário de uma candidatura conjunta entre Portugal e Espanha à organização do Mundial de 2018. As declarações de amor ao projecto sucedem-se em tons que oscilam entre o arrebatador e o comedido.
No meio da brincadeira, ninguém parece muito interessado em pôr cobro à loucura dos que, à custa dos cofres do Estado, desejam ver o seu nome para sempre gravado na lista das megalomanias irresponsáveis.
O presidente da FIFA, Joseph Blatter, deu por estes dias um empurrão na coisa, ao qualificar de "muito forte" a putativa candidatura. Acrescentou, em tom desafiador, que há outros países interessados no evento (Inglaterra, Estados Unidos, China, Japão, Rússia...). Como quem diz: vejam lá se estugam o passo, antes que algum destes pequeninos concorrentes vos passe a perna... Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, percebeu o recado. "É bom sinal, mas há que ir passo a passo e cada coisa a seu tempo". Pois claro: ainda não é altura de assustar o ignaro contribuinte com o custo da brutalidade. Lá mais para a frente, quando o facto estiver consumado, alguém há-de apresentar a factura.
Gilberto Madaíl, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, também achou as declarações de Blatter "muito boas". Mas avisou de seguida: sem os governos isto não se faz. Pois não.
Está, portanto, montado o esquema. Ninguém sabe muito bem para onde caminha o Mundo. Ninguém se arrisca a prever a evolução das economias sequer no curto prazo. Ninguém tem a mínima certeza sobre a amplitude da crise internacional. Ninguém se atreve a projectar até onde terá de chegar o braço do Estado para socorrer os mais necessitados. Mas há quem entenda que libertar uns largos milhões para um evento de duvidosa rentabilidade é uma bela ideia.
No caso de não termos aprendido nada com os erros do Euro 2004, vale talvez a pena recordar o país futebolístico que somos.
Na época passada, os jogos da Liga tiveram uma média de espectadores pouco superior a dez mil por jogo. A taxa de utilização dos estádios rondou os 30 por cento (ou seja: sete em cada dez lugares ficaram vazios).
Termo de comparação: clubes como Manchester United, Barcelona ou mesmo o mais modesto Schalke 04 têm médias de assistências nos seus estádios superiores a 60 mil pessoas.
De quem é a culpa? Podemos assacá-la aos preços elevados dos bilhetes, à geralmente fraca qualiade do espectáculo, à televisão (que, por sinal, é hoje a grande fonte de receita de muitos clubes), ao desapego clubístico (contrariado por exemplos como os do Leixões ou do Guimarães)...
Enfim, há uma série de factores que explicam o estado da arte do futebol lusitano. Juntos ou separados, todos aconselham o óbvio: juízo e travão nas loucuras.
Paulo Ferreira
in JN
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