domingo, 12 de outubro de 2008

A situação cá pelo sitio...

Sócrates lê melhor o jogo
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Já todos tomámos consciência de como a crise tomou conta e vai agravar as nossas vidas.
Depois de pôr em xeque banqueiros, investidores e governantes, a crise chegará rapidamente ao nosso bolso e aos nossos empregos.
É por isso que vale a pena olhar para o discurso de José Sócrates esta semana no Parlamento para concluirmos que, entre a classe política portuguesa, ele se destaca por ser o mais rápido a reagir, por ser o que faz uma leitura mais correcta do jogo, entendo-se por jogo a avaliação das forças, dele e alheias, das oportunidades e dos riscos e, obviamente, das emoções do povo.
No discurso do Parlamento, Sócrates reverteu a crise a seu favor: como nos temos portado bem e temos sido rigorosos nas contas, o défice não vai disparar e vai haver uma folgazinha para, já em 2009, ajudar os mais necessitados.
"O povo não troca o certo pelo duvidoso" clamava ontem, aqui no JN, Luís Filipe Menezes, na sua enésima e certeira crónica contra a liderança do PSD.
A sondagem que publicámos esta semana é isso mesmo que mostra: há muita gente a pensar que o Governo é mau, mas a maioria está convicta de que ninguém faria melhor de que o actual Governo.
A um ano das eleições, a porta da maioria absoluta está aberta para Sócrates e o PS voltarem a entrar.
Ferreira Leite cai a pique .
Manuela perdeu a credibilidade e a oportunidade. A opinião pública não sabe dela, e dentro do próprio partido já ninguém põe as mãos no fogo sobre a possibilidade de ser ela a número um do partido no dia das eleições. A escolha de Santana Lopes para Lisboa agrada a uma parte do partido, mas é impossível que possa agradar à própria Ferreira Leite. Não parecendo que Santana tenha alterado o caminho, nem acreditando que Ferreira Leite se tenha rendido ao populismo do "menino guerreiro", resta a hipótese pior: entregou os pontos, por falta de exército e de generais à altura do combate.
O PCP tem um numeroso exército e generais conhecidos de outras batalhas. Mas a táctica de guerra e de guerrilha está gasta. "Déjà vue".
O sobe e desce do Bloco estabilizou num bom número, mas ainda curto para guindar um partido que é contra o sistema à suprema ironia de um resultado eleitoral o transformar em garante do sistema. Mas é, sem dúvida, a questão mais interessante do cenário político, e que se deverá manter até às eleições, a de saber se o PS chega à maioria absoluta ou se para a fazer precisa da fatia eleitoral que couber ao Bloco.
Neste panorama, cabia ainda o CDS. Anda perdido, entre a vaidade de uns e a ineficácia geral do discurso centrista, que já ninguém ouve, nem mesmo quando, como sucedeu esta semana com Paulo Portas, coloca na mesa boas hipóteses para enfrentar a crise.
José Leite Pereira
in JN

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