terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Europa está diferente



Quando esta tarde entrei na página do iGoogle que me oferece os mais variados títulos com ligações para as notícias do país e do mundo, fiquei a saber que a Europa adquiriu uma nova configuração geográfica. Habitualmente, as novidades são poucas, raramente leio notícias que me surpreendam verdadeiramente e, muitas vezes, por falta de disponibilidade ou desinteresse nem chego a tirar o cursor do título desistindo, assim, de entrar nos espaços onde os textos completos são disponibilizados.
Hoje, porém, foi diferente. No separador dos destaques do DN podia ler-se: NEVÃO PÁRA EUROPA. Dei uma espécie de salto mental de alegria e, em segundos, já dançava em plena avenida ao som de um tombe la neige lisboeta. Nevão-Europa-Europa-Portugal-Portugal-Lisboa (que algumas das terras altas portuguesas já tem a sua conta). Pensei logo que tínhamos sido contemplados com este bónus branquinho, ao abrigo de um programa-quadro qualquer, caridade da UE para com os pobrezinhos de Lisboa e arredores que precisam de ser distraídos de tanta chuva e das traquinices dos seus governantes.
Pois não. Não era nada disto. Afinal as fronteiras geográficas da Europa mudaram. Agora o continente Europeu começa, imagine-se, em Londres e termina, veja-se, em Londres.
Em Londres tem havido tempestade de neve e há dezoito anos que não nevava assim. Os londrinos ficaram barricados em casa, o metro não funcionou, as escolas encerraram, os aviões atrasaram-se e o mayor de Londres decidiu, até, suspender as portagens de entrada na cidade. O caos! Deve ter sido para comemorar o acontecimento que altas instâncias não identificadas decidiram declarar a circunscrição da Europa à capital do Reino Unido.
Isto, senhores, é que é novidade! E nós estávamos tão necessitados de notícias frescas e interessantes que abafassem as vozes tristes e os fumos cinzentos, que todos os dias vêem para o ar via tubos das chaminés das capelinhas da nossa aldeia onde, também, habitam criaturas moribundas e outros espectros pavorosos.
O mundo está a mudar. Para além de inúmeros bens, qualidades e novidades de extasiar, os londrinos tinham a chuva. Dezoito longos anos só com chuva e decidiram por estes dias invocar a neve que não se fez rogada. Por isso, lhes foi concedido o privilégio de constituírem sozinhos um continente, um espaço, uma região ou seja lá o que for e que, em língua portuguesa, passou a chamar-se Europa. Nós os de Lisboa que nunca fomos menos que os ingleses nem em qualidades nem em novidades, temos agora o freeport, a avaliação dos professores, o futebol, o tempo, o freeport; a avaliação dos professores, o futebol, o tempo, o freeport, a avaliação dos professores, o futebol, o tempo e, finalmente, a nossa Lisboa menina e moça foi escolhida para capital da chuva.
Que pensarão as outras potências? Terão sido consultadas nesta nova divisão geográfica? De qualquer modo não parece ser nada grave. Trata-se apenas de um artigo de jornal cujo título sugere que houve um nevão por toda a Europa ou que uma tempestade de neve pode ter assolado as instalações de alguma das principais instituições da União Europeia. Afinal e à semelhança do que tem estado a acontecer noutras partes da Europa e do mundo, a neve cai com muita intensidade na capital inglesa.




Referência:

NEVÃO PÁRA EUROPA Diário de Notícias, 03/02/09

2 comentários:

Anónimo disse...

Olha olha os sempre presunçosos ingleses! Com que então aquela ilhota foi promovida a Europa.Eles quando lhes convém nem pertencem à UE e noutros dias ,quando cai lá neve e deixam de ter aquele asqueroso smog, até se tornam na Europa. Deixem-me rir.

zigoto disse...

Claro que, desde que o Beresford enforcou o nosso Marechal Gomes Freire de Andrade nas muralhas de São Julião da Barra, a propósito de nos terem obrigado a não respeitarmos o "bloqueio continental" - imposto à Europa pela França napoleónica, que não respeitámos, e nos sujeitou a três invasões francesas - os nossos "aliados" ingleses lá nos mandaram esse déspota para demonstrar que, aqui, quem manda é sua majestade... em nome, é claro, da mais velha aliança diplomática ainda em vigor.
E ela cá continua.
Como todos sabemos: sem nos pagarem as indemnizações devidas pela nossa participação na Grande Guerra, sem nos terem pedido perdão pelo "Ultimatum" acerca do mapa cor-de-rosa, etc, etc.
Até ao desplante de expulsarem cidadãos portugueses, e da União Europeia a que a canalha inglesa também finge pertencer, que trabalham na sua ilhota, a pretexto de defenderem os postos de trabalho dos indígenas...
Não acham que já é altura de mandarmos os bifes ver Braga por um canudo?